terça-feira, 30 de junho de 2009

Bike Copenhagen




Ela é azul-parda. Silenciosa, evoluída e linda. Eu a trato com muito carinho. É veloz, leve e elegante, design dinamarquês. Tem um cesto na frente, onde posso colocar comprinhas e um livro. Nós nos entendemos perfeitamente, ela e eu. Na verdade, foi amor a primeira vista. Foi! Quando a vi, não pude resistir: esta é a bicicleta que quero. Ela me concede uma sensação de liberdade indescritível. Andar de bicicleta é pelo menos tão emocionante quanto andar de avião.

Em Copenhague a bicicleta se tornou um símbolo de bem-estar, caracterizando a cidade plana e limpa, oferecendo ciclovias maravilhosas. Um terço da população vai ao trabalho de bicicleta, o que significa também menos carros rodando e poucos congestionamentos. Na verdade, Copenhagen é um paraíso para quem gosta deste meio de transporte. Há ciclovias largas e bem cuidadas por toda a cidade. Naturalmente há também sinaleiras e regras a observar. Embora muitos ciclistas sejam tidos como atrevidos, a porcentagem de acidentes é relativamente baixa.

Eu ouso complementar. São poucas as cidades em que a bicicleta é tida como um meio de transporte diário. Não é incomum em Copenhague que um político vá ao trabalho com a sua - de terno e gravata. Andar de bicicleta é tão natural como o ar que respiramos. Faz parte da vida. É personalidade.


Veja também: Copenhagen cycle chic

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Da solidão



Quando estou só encontro-me comigo mesma e esbarro com o que sou. Deparo com minhas congruências e com meus contrastes. Descubro o lado secreto de muitas palavras e a verdade de meus sentimentos: não importa momentos de tristeza, não importa a parte fraca da qual humanamente sou feita. Encontro-me com o que tenho de frágil e com a fortificação dissimulada, equilibrando-me. Procuro entender minha vida, o sentido que as coisas comportam e os seus encantos, sem medo, mansamente. Nunca me abandono, ao contrário, atropelo-me.

Solidão é o silêncio que preenche o meu espaço. Então, já não é pleno, pois há vibrações, um eco que pulsa, um concerto ritmado por percepções. Não posso tocá-lo, mas ele bordeja o coração. Em cada silêncio há uma gota de tristeza.

Solidão é um pouquinho de ansiedade, rendilhada de melancolia – é como uma partitura, onde solfejo a cor de minha saudade. Quando ela aparece, tento povoá-la com desafios. Procuro então, cerzi-la com lembranças. A solidão de meus dias é breve, nunca constante. Sentir-se só é ter saudades, sem que seja angústia. É um sopro por querer, por desejar, uma serena busca por presença. Contudo, não vivo isolada, compartilho a felicidade e preciso da convivência.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Velhas cartas


Ela as guardava já de longa data. Estavam amareladas e com aparência de coisa esquecida. Uma dor seca de nostalgia encheu os espaços da casa. Encontrou envelopes maravilhosos, todos carimbados por caligrafias conhecidas. Eram envelopes viajados, amassados, e machucados pela embriaguez de sua ansiedade. Cartas de amigos, de amores e de familiares.

Com a mão enrugada, abriu uma a uma. Encontrou uma profusão de papel: branco, azul, rosa e vermelho. Folhas escritas e ricamente dobradas, delicadamente elaboradas. Começou a ler - uma leitura lenta e longa. Neste ensejo, ainda pôde ouvir as vozes no despejo de seu conteúdo. Havia palavras que que gritaram ao coração, lambendo sua alma com o sabor morno de uma emoção já anteriormente sentida. Releu trechos escritos com entusiasmo que contavam histórias, verdades irremediáveis. Eram extensos relatos, contendo cheiros mágicos, pedaços de vida, fragmentos de tempo ali conservados.

Cartas avelhentadas. Desfolharam-lhe perfumes de outrora.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Palavras


Quando pronunciadas, manifestam-se como brisas melodiosas ou como perigosos vendavais. Aproximam ou afastam. Por vezes, ferem como um punhal. A palavra é um instrumento do qual dispomos para embelezar o mundo, ou para estraçalhá-lo. Encontrar a palavra certa é uma eterna busca. Silenciar no momento oportuno, é uma arte.

Sussurradas, entrecortadas.... Palavras são fragmentos expressivos que vêm do coração, representados por pequenos símbolos, carimbados nas linhas e entrelinhas de um texto – letra por letra. Com elas externamos as arruaças da vida que não podemos segurar na alma. Que maravilhoso dosá-las! São como imagens que escapam de nossos mãos, e se derramam de forma cadenciosa por entre frases e parágrafos. Podemos apalpá-las, e elas nos tocam na delícia de seu sabor. E então brilham, como se fossem diamantes: pedras imperecíveis, muito preciosas. Silenciosas e lapidadas, serpenteiam nossso pensamento constantemente. Ritmadas e faceiras, cantam-nos aos ouvidos. E calam.

Palavras são pequenos fios de ouro, levemente entrelaçados, feito filigranas.


terça-feira, 16 de junho de 2009

Cidade sobre ilhas - Parte 2

Eremitage

Perambulei por estas ruas banhadas de águas e me encantei com a beleza desta cidade. Atravessei inúmeras pontes e o ar gelado de fevereiro petrificou meus pés, fazendo-me lembrar que eu estava a passear num dos centros urbanos mais nórdicos do mundo.

Segundo um historiador russo, São Petersburgo é um deserto de granito. O complexo arquitetônico do museu Eremitage é uma parte dessa coletânea de edifícios perfeitos. Construído em estilo classicismo nos séculos 18 e 19 é, sem dúvida, uma construção maravilhosa e a mais visitada da cidade. Um dos prédios do conjunto é o Palácio de Inverno, originalmente construído como refúgio de Catarina II – a grande, onde ela guardava suas mais preciosas obras de arte. O Palácio de Inverno foi residência dos czares e é revestido com o mais suntuoso estuque e por enormes frescos de parede, assim como um valioso assoalho de parquete. Um ambiente único, ostentando luxo e riqueza, oferecido por seus senhores aristocráticos. Hoje o Eremitage é a maior galeria de arte da Rússia, assim como um dos mais importantes museus do mundo, ao lado do Louvre e do Metropolitano de Nova York.

São Petersburgo. As pérolas arquitetônicas do barroco italiano brilham em lindas cores pastéis e as cúpulas das igrejas douram o céu dessa metrópole romântica, definitivamente bela.

domingo, 14 de junho de 2009

A cidade sobre ilhas - Parte 1



Estávamos na estação Leningrado em Moscou de onde partem os trens para a cidade russa São Petersburgo. Para mim não era uma estação qualquer, pois eu lembrava de Anna Karenina – a personagem principal do romance de Leo Tolstoi, que viveu um amor trágico, levando-a ao suicídio. Viajaríamos, pois, pelo mesmo trajeto a caminho de São Petersburgo, tal qual a bela e aristocrática Anna, a mulher adúltera que desafiou todas as convenções sociais para viver uma paixão avassaladora. Imaginava-a caminhando de um lado para o outro, arrastando a cauda de um de seus belos vestidos por sobre a plataforma da estação. Realidade e ficção se confundiam em minha cabeça.

Às margens do Rio Neva, ergue-se charmosa e brilhante, a cidade de São Pedro, denominada A janela russa para o Ocidente. São Petersburgo é um grande museu arquitetônico, construído pelos melhores arquitetos europeus nos séculos 18 e 19. Aos 31 anos, o Czar Pedro – o Grande – viu seu sonho realizado: inaugurou a capital de seu reinado, uma cidade portuária, uma fortaleza. São Petersburgo estende-se imponente por sobre 42 ilhas, traçando largas avenidas, praças frondosas, palácios e templos. Possui 68 canais, interligados por 500 pontes. Seu centro classicista-barroco atrai milhares de turistas e já houve quem afirmasse que São Petersburgo é a cidade mais linda do mundo. As noites luminosas de São Petersburgo são festejadas todos os anos com o Festival de Arte, denominado Noites Brancas, quando os elencos mais famosos do mundo se reúnem para apresentar teatro, ballet e concertos por todos os cantos da cidade.

Com certeza, São Petersburgo é uma das cidades mais alucinantes da Europa, lembrando artistas como Tschaikovski e o poeta Alexander Pushkin. Esta cidade é a lembrança viva da época dos czares, como a revolução de Lenin. A sua história foi escrita por czares, por nobres e por intelectuais, no entanto, São Petersburgo é também a cidade dos artesãos, dos operários e de muitos estudantes. Ainda é jovem se a compararmos com a maioria das cidades européias, pois em 2003 festejou seu trigésimo aniversário. Para esta festa, a cidade de Pedro enfeitou-se colorida e rica, feito uma matriosca princesa.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Lugares

Olinda


Correr mundos é uma marca atávica que carrego em minhas veias. Ultrapassando fronteiras, desenho uma minuciosa busca que me conduzirá por um país desconhecido. Descubro pequeninos detalhes no traçado de sua geografia: texturas, formas, linhas e cores. Procuro sentir a atmosfera do lugar, deixando-me impressionar pela infinidade de suas essências, cheiros e sabores.
Sigo passo a passo, vagarosamente. Percorro ruas e largos. Vou por um atalho e cruzo todos os caminhos possíveis. Entro nos bares, tomo um café e observo as pessoas. Sinto o ritmo das coisas e o pulsar da vida. Assim, meu trajeto já não é mais tão estrangeiro. Por alguns dias, prossigo minha jornada e coleciono experiências. Guardo-as cuidadosamente em meu alforje.
Viajar é um encontro, uma experiência e uma aprendizagem. O mundo é tão vasto e há uma diversidade muito grande de culturas. Ao voltar de nossas odisséias, já não seremos a mesma pessoa, pois novas imagens passarão a povoar nossa vida. Então contaremos coisas, como se tivéssemos acabado de ler um romance.
Contudo, se não valorizarmos o país em que nascemos, jamais estaremos aptos para ver outros mundos. O espaço que nos cerca é um lugar não muito longe, mas singularmente belo.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cidades

João Pessoa

O século XXI é considerado o primeiro século verdadeiramente urbano da história da humanidade, uma vez que, nunca antes tantas pessoas viveram em áreas urbanas como agora. Em tempos de globalização, o crescimento das cidades é impetuoso e irreversível. Somos cada vez mais cosmopolitas e multi-étnicos.

Há cidades misteriosas, enfeitiçadas e lindas. Algumas, simplesmente amamos, elas nos impressionam tanto que nelas gostaríamos de viver. Outras, porém, nos espantam. São enormes, metafísicas e confusas. Sua beleza é coberta por um ressaibo de perigo e já não podemos peregriná-las com tranquilidade.


São Paulo, por exemplo, cresce de forma espantosa e é quase ingovernável. É a metrópole do imigrante, um mosaico de paradoxos, onde o luxo e a miséria caminham lado a lado. Alguns não tem o que comer, outros penduram em sua sala de estar uma obra autêntica de Picasso.


Há cidades que são faceiras como uma menina e e dignas como uma velha senhora, como por exemplo Lisboa - a namorada dos poetas. Outras nasceram para ser nobres, como Estocolmo, Praga e Viena. Lembro, neste contexto, de Roma, a cidade eterna, assim como de Atenas, a cidade olímpica.

Falemos de cidades extremamente limpas, como Calgary, no Canadá e Honolulu, no Havaí. Há também aquelas que são exorbitantemente caras, como Tóquio, Osaka e Moscou. E olhe, um dos centros mais verdes do planeta
estou envaidecida! é a nossa João Pessoa.

Lembro de Paris, cidade luz, e imagino a Nova Yorque de Woody Allen, aquela que nunca dorme. Traço Londres, uma cidade imperdível, e São Petersburgo, a que foi construída por sobre ilhas. Gosto muito de Berlin, o palco da cultura, cidade transformação. Naturalmente é preciso falar de Veneza, de Recife, de Hamburgo, de Copenhague e de Amsterdam, cidades românticas e lindas, circundadas por águas.