quinta-feira, 23 de julho de 2009
Macabéa - Menina - Mulher
sábado, 18 de julho de 2009
A palavra ronda o meu espaço. Com voz de sussurro percorre minha fadigada melancolia. Saracoteia monossilábica em minha volta, deixando-me tonta na expressão de minha ânsia. Então, eu a busquei e deixei que deslizasse substantiva por sobre essa alba página. Nem eu, nem ela sabemos se há sentido no vértice desta mútua aflição. Mas também não é necessário que haja. Todavia, acontece algo estupendo, uma inventividade. Somos uma unidade e estamos ligadas por um fio, como as pérolas que compõem um colar. O texto que juntas formamos é um quadro que contém algumas pobres figuras, mas é muito precioso - por si só. O quadro é de cor púrpura. Eu, o pintor; a palavra, a tinta.
Ela vigia o meu espaço e mora comigo. Deseja que eu a use para ser concreta no cenário de meus sentimentos. Calada, me olha, afeiçoando-se. Agora, já bem mais calma, despojada de qualquer lamento, ocupa estas letras com brilho escarlate. Queria era uma grafia, uma requebrosa forma adjetivada na frase de um destino, conjugada e escrita. Palavra - nascida do parto normal de minha embriaguez.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Rouge Cardinal
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Da felicidade
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Nas tuas mãos
Três histórias. Três gerações. Três mulheres: Jenny, a avó; Camila, a mãe; e Natália, a filha. Através do diário da primeira, do ábum de fotografias da segunda e através das cartas de Natália, a autora nos conduz de forma deliciosa e suave pela vida de cada uma delas, que acontece na classe média alta de Lisboa. Com um laivo de melancolia e com uma sensibilidade cativante, a autora – Inês Pedrosa – nos revela os segredos, os amores e as desilusões desse universo feminino.
Nas tuas mãos, um romance delicado e belo.
Uma jóia da literatura portuguesa!
terça-feira, 7 de julho de 2009
Caminhos
Eu acabara de chegar. Era hora de descobrir os mistérios e segredos desse arquipélago, onde a partir de então passaria a viver. Olhei ao meu redor. Vi uma cidade linda e faceira, debruçada por sobre o espelho azul das águas do Mar Báltico. As casas coloridas ao longo dos canais revelavam estilos e histórias de séculos passados, quando intrépidos marinheiros ancoravam ali suas embarcações. Segui em direção ao mar, sentindo na pele a brisa suave da maresia. A atmosfera mágica da portuária Copenhague me envolvia.
Era uma tarde morna de verão. Extasiada com o novo que me envolvia, senti que estava com a garganta seca e decidi tomar um café num bar da esquina. Atrapalhada, esbarrei numa mesa, onde uma senhora elegante comia um sanduíche e tomava um vinho tinto. Pedi desculpas com um forte sotaque, revelando imediatamente meu estado de imigrante. Ela, então, desculpou-me com um lindo sorriso. Não resistindo à simpatia encontrada, contei-lhe que era brasileira e que mal apenas falava o seu idioma.
Comovida, tomei meu café, enquanto esquecia-me em pensamentos. De repente, tornei a surpreender-me com a senhora dinamarquesa, pois ela veio até a minha mesa e, de forma natural e descontraída, cantarolou e sambou o ritmo contagiante de Garota de Ipanema, de Tom Jobim e de Vinícius de Moraes:
Olha que coisa mais linda, tão cheia de graça
É ela menina, que vem e que passa
Num doce balanço, a caminho do mar.
– Bossa Nova! – disse, retirando-se.
Como que hipnotizada, acenei com a cabeça. Falávamos, enfim, a mesma linguagem: a expressão clara e precisa de meu país latino, através da mais bela canção brasileira. Neste momento, deixei-me levar pelo embalo inconfundível da Bossa Nova, encontrando-me no limite impreciso entre o sonho e a realidade. Adornei minha alma, fortificando-me para prosseguir as cruzadas por estes espaços ainda tão estrangeiros. Metade de mim era saudade.
Ainda perplexa com o que acontecera, encontrei um guardanapo em cima de minha mesa, em cujas extremidades estava escrito o nome e o número do telefone da bailarina até então desconhecida. Ela o havia colocado ali, sem eu perceber. Em polvorosa, corri atrás dela para agradecer o seu gesto, não obstante, havia sumido por entre a multidão.
Tornei a olhar ao meu redor. O castelo à beira do cais parecia encantado, como se ali dormisse – em cima da ervilha – uma princesa de verdade.
Crônica reduzida - premiada no Concurso da Biblioteca Raízes, Genebra.
sábado, 4 de julho de 2009
Tempo
O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor. Rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira. O equilíbrio da vida está essencialmente neste bem supremo.
Raduan Nassar, em Lavoura Arcaica