quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O contista

Viver não é o bastante... deve-se ter brilho, liberdade e uma pequena flor.
H.C. Andersen

Foi numa manhã dourada de outono – no dia 6 de setembro de 1819 –, quando uma carruagem postal parou em frente aos portões de Copenhague. Um menino de 14 anos desceu do veículo e debruçou seu olhar por sobre a capital de seu país, acreditando encontrar ali, o caminho para uma vida melhor. Este menino pobre, filho de sapateiro e de mãe lavadeira, se chamava Hans Christian Andersen. Em sua bagagem trazia as cicatrizes de uma infância infeliz, a leitura de muitos livros e a suave lembrança de sua ilha – a ilha de Fyn.Ninguém poderia imaginar que este adolescente rejeitado pela mãe, quase abandonado, era um grande poeta. Haveria de ser um homem da literatura, a dos contos, que brotariam de sua alma iluminada pelo universo da fantasia, em dezenas deles. Ali estava, ainda menino, um talentoso contador de histórias e o mundo ouviria falar de suas obras, onde abordaria a linguagem dos cisnes, descreveria o perfume das flores, o borbulhar das águas e o brilho das estrelas. Falaria da bailarina, da menina pobre, do pequeno polegar, de princesas, da rainha da neve, do soldadinho de chumbo, do imperador e da pequena sereia. Nos faria emocionar com seres indefesos e poderosos, personagens tristonhos e desamparados. Escreveria sobre a pobreza e sobre a humildade, tal qual fora a sua própria infância, e nos delinearia a fragilidade da vida através da malícia e da esperteza de seus personagens. Tornar-se-ia um escritor clássico de grandeza incomparável e teria a capacidade infinita da criatividade, nos fazendo sonhar com lendas marcantes através de temas universais. De patinho feio passaria a ser príncipe – o príncipe dos contos: o Pai da Literatura Infantil. É setembro, quase outubro do ano de 2005. A manhã está outonal, assim como em 1819. Ando pelos quarteirões antigos de Copenhague e encontro, em toda parte, vestígios das histórias do contista. Sinto que Andersen caminha a meu lado, como se estivesse a passear comigo, mostrando-me Copenhague, sua grande biblioteca simbólica.Vagamos por muitas ruas e seguimos em direção ao canal grande, de onde sentimos o aroma do mar. Com um sorriso brejeiro, H.C. Andersen, agora com 200 anos de idade, olha para mim e diz:- Minha vida é um belo conto de fadas... tão rica e tão feliz!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A menina e o poeta


Canção para Quintana!

A menina amava os versos do poeta. Do Caderno H recortava versos e prosa, lindas palavras. Eram rimas graciosas, dosadas com a leveza das coisas simples do cotidiano. Colecionava-as todas, tal qual bilhetinhos de amor. Seu baú se enchia de papéis recortados, cânticos melodiosos e ritmos versejados. O poeta falava em pinhão quentinho, em vento ventando, em pé de pilão, em florzinhas crescendo e em tantos outros cantares... Quintanares!

Pois, a menina se divertia com as maluquices do poeta e deliciava-se com seus modos travessos: ora malicioso, traquina e engraçado; outras vezes, melancólico, complexo e afetuoso. Era a arte de um grande escritor que invadia os seus caminhos, através dos quais, palpava e tateava a própria realidade. Um desejo inquieto... a menina e o poeta.

O tempo passou. A menina refez seus caminhos e foi em busca de outros mares e de outros ventos. Em sua bagagem levou um punhado de poemas admiráveis, escritos num livro azul, rosa, branco e vermelho - lembranças concretas de uma infância cheia de espelhos mágicos. Encheu a mala com versos que encontrou numa ruazinha sossegada, ladrilhada de amores sedentos, a Rua dos Cataventos.

E o poeta? Ora, ele continuou a fazer versos, sonetos e confidências. Encheu o mundo de cânticos, interjeições e de reticências. Depois... um dia desses, resolveu ir embora – virou estrela. Seus poemas, porém, ficaram e jamais passarão. Eles estão em toda parte, passarinhando aí pelos ares: e que leves, lindas filigranas. Mário Quintana vai colorindo as horas... As horas quotidianas!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Você sabia que...

Imagem, daqui!


...na Dinamarca existem árvores para pendurar chupetas?

É uma tradição nórdica. As árvores se encontram em muitos parques e são lindas. Quando a criança concorda ou quando ela mesma decide deixar o bico, toda a família – pais, irmãos, tios e avós- acompanham -a para, em ato solene, pendurar a chupeta na árvore. É quase um ritual festivo que evita lágrimas e dores. Ou, pelo menos, suaviza a despedida. É como se fosse um presentinho para a árvore, que desse modo, fica enfeitada. Parecem flores! Sempre quando a criança fica com saudades do bico, ela pode voltar para revê-lo e conversar com ele.

Estas árvores coloridas já se expandiram por muitas cidades européias.

Crédito da imagem, aqui!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Insônia


 
A noite e o vento sentinelam minha insônia. A noite, o que é? É a continuação do dia, com sombras. É um rastro negro, uma névoa espessa que envolve o mundo e o silencia. Uma muda presença, quase um mito. Mas é doce, transluzente. Traz-nos o cansaço. É como um manto que deita em meus ombros e me acalenta. Ela traz a languidez e os meus sonhos fecham os olhos. O vento dormiu durante o dia, agora bisbilhoteia e enche o mundo de travessuras. E a insônia da minha noite.
É noite, quase madrugada. As casas e os jardins estão serenos, adormecidos. Ao meu redor... Tudo dorme.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Era uma vez um muro...

Brandenburger Tor

"Mister Gorbachev, open this gate! Mister Gorbachev, tear down this wall!"
Ronald Reagan

Nenhuma outra cidade européia foi tão destruída pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Berlim foi o grande palco da história do século 20, marcada de forma dolorosa pela Guerra Fria, representando concretamente, através de um muro sólido, a divisão do mundo em dois sistemas governamentais distintos. É impossível não lembrar do muro quando falamos de Berlim, muito embora já não exista mais. Felizmente! Para quem quiser sentir a história de perto, poderá admirar mais de um quilômetro de muro perto da estação central de trem.

A tragicomédia de Wofgang Becker revive os últimos meses da extinção da Alemanha Oriental. A história é contado com uma nostalgia quase dramática e comovente. O filme toca a alma dos alemães profundamente, tanto do oeste como do leste, unindo sentimentos de pessoas que agora vivem num país unificado.O muro, ao cair, fez tremer a cidade, como se estivesse sendo sacudida por um terremoto. Foi um acontecimento marcante na vida política da Alemanha e na história contemporânea. A cidade, outrora dividida, é hoje unificada e habitada por alemães do oeste e leste e por muitos estrangeiros, formando um mosaico cultural surpreendente.Faz 20 anos! A queda do Muro de Berlin!