domingo, 29 de agosto de 2010

Sofia e Magnus



O despertador toca. Magnus puxa a coberta por cima de sua cabeça. Está ainda muito cansado e gostaria de dormir mais algumas horas.  Mas, sua mãe vem chamá-lo. Ele, então, levanta e vai para a cozinha. Quase não fala. Lacônico, mastiga o pão e toma seu café.
- Magnus, você precisa se arrumar! - Diz sua mãe, impaciente. 

Apressado, o menino vai para o quarto e veste o seu  moleton preferido. Apanha algumas folhas digitadas, cadernos e livros e coloca-os em sua mochila. Despede-se de seus pais e sai correndo.  No pátio da escola, Magnus encontra Sofia, sua namorada. Ela espera por ele. De mãos dadas, os dois vão para a sala de aula. Sofia, no entanto, está distraída, diferente. Magnus notou um lampejo de mágoa em seu olhar e ficou preocupado. O que estaria acontecendo com ela?

Depois da aula, Magnus e Sofia foram passear no centro cidade. A tarde estava primaveril, quase verão. Um vento morno sacudia o mundo, inflando-o de sonhos e planos. Sofia e Magnus compraram sorvete e sentaram num banco da praça. Magnus, então,  abriu sua mochila e tirou lá de dentro um livro bem grosso, dizendo: 
- Olhe o que vamos ler?!
- Eragon! - Diz Sofia, surpresa. 

  Sofia e Magnus adoram ler. Seguidamente, escolhem um livro na biblioteca e se encontram para ler.  Dessa vez, no entanto, com o dinheiro poupado da mesada, Magnus comprou Eragon, de Christopher Paolini - o primeiro volume da Trilogia da Herança. Com o livro nas mãos, os dois realizam a primeira leitura: observam a cor, o tamanho e as letras douradas do título. Manuseiam a obra com muito carinho, como quem cuida de um tesouro. Mais tarde, os namorados se despedem e cada um toma o rumo de sua casa. 

Abraçado no robusto volume de Eragon, Magnus senta no ônibus e olha para fora. Na verdade, nem vê a paisagem das ruas, pois seu pensamento está com Sofia. Ele voltou a se preocupar com sua namorada. Pensou em perguntar para ela, mas preferiu esperar.

 O resto do dia passou voando. Magnus preenche suas horas com trabalhos escolares, com o skate e amigos. Depois da janta, ele entra no facebook. Vê, então, que Sofia também está online. Na tela do bate-papo aparece um rostinho amarelo – aquele com uma lágrima.

- O que é Sofia? - Pergunta Magnus. 
- Sofia, o que foi? Já andavas tão pensativa na escola... - Magnus torna a perguntar.
Após alguns instantes, Sofia digita:
 - Magnus, depois das férias vou embora daqui. Meu pai encontrou um emprego em outra cidade. Vamos nos mudar para o Rio de Janeiro.

Depois das férias? Ir para outra cidade? Rio de Janeiro? Como assim?
Magnus tenta entender as palavras que Sofia escreveu. Olha para o teclado, mas não sabe que letra tocar. Sofia então digita: - Magnus! Magnus! Responda! 

Ele não responde. Com os olhos úmidos, Magnus desliga o computador sem escrever uma única palavra. Vai até a janela de seu quarto e observa a escuridão que se fez na rua. Pensativo, deita em sua cama e começa a folhear as páginas do romance que há pouco comprou. Magnus lê a primeira frase de Eragon : 
"O vento uivava na noite, carregando um aroma que mudaria o mundo."

Publicado no Ler é Saber- Feevale/Faccat

Imagem by - Sabatinie

domingo, 22 de agosto de 2010

Prosa

A palavra é um traçado minucioso que guarda em seu sentido finíssimas filigranas poéticas. Encerra em sua caligrafia uma imagem e um sentimento, formando uma combinação perfeita e harmoniosa, tal qual a chave que gira na fechadura. Há em seu formato a narrativa de um momento mágico em várias dimensões, como fragmentos de vida costurados ao sabor de paixões e loucuras. Loucuras nossas, pequenos condimentos de alegria, de solidão, inchados de silêncios repetidos - manjares para a escrita de um texto. Um texto... a palavra dita com a voz da delicadeza, grafada em sinfonia com o coração. O grito que vejo, que me fala... que conta. A voz desenhada em dourados fios. Prosa e verso.


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sábado, 21 de agosto de 2010

Entusiasmos

Aqui, onde vivo, falo de meu país, como quem fala de um grande amor.

Algo incrível aconteceu-me outro dia. Quando fui dar conta, estava eu a defender meu amor pela terra em que nasci, uma vez que tive a nítida impressão de ter sido mal entendida por uma conterrânea, que assim como eu, também vive na Europa. Em minha aflição e arrebatamento, procurei defender o carinho que tenho pelo Brasil, tal qual uma leoa atiçada, que protege com voracidade seus filhotes. Depois desse feito inesperado, senti-me fraca e triste por vários dias – era como se tivesse passado por um longo e árduo processo judicial. O simples fato de gostar da cidade em que vivo, levou a interpretações desacertadas. Pois, o carinho profundo que tenho pela pátria, que é por mim amada, nada tem a ver com a afeição que tenho por outras cidades. São sentimentos diferentes e incomparáveis. Meu entusiasmo por minha terra é único e inconfundível. Cantar meu país é algo maravilhoso, e poderia fazê-lo ininterruptamente. Procuro, no entanto, ajustar-me na cultura em que vivo, identificando o seu lado bom, sem ignorar suas imperfeições. E, diga-se de passagem, viver no estrangeiro não é uma dança sobre rosas. Nesse remoinho de percepções, encontro um vasto caminho – ora de pedras, ora de flores - que me concede uma gama muito grande de possibilidades.


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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Para Anne

"Já sabes há muito que o meu maior desejo é vir a ser jornalista e, mais tarde, uma escritora famosa. Hei de publicar um livro depois da guerra: O anexo." Anne Frank

Hoje conheci o esconderijo, na Prinsengracht. Encontrei tudo assim como descreves em teu diário. No armazém de teu pai ainda estão guardados alguns sacos de especiarias. Fiquei impressionada ao ver a estante giratória, de onde alcancei o anexo. Subi as escadas íngremes e cheguei em teu quarto que dividias com o senhor Pfeffer, o Dussel. Imaginei a tua cama, a secretária e a luminária. Todos os móveis da casa foram tirados pelos nazistas depois da denúncia. E teu pai – muito tempo depois - quis que os aposentos ficassem vazios, para sempre. Mas as fotografias das estrelas de cinema que colaste nas paredes, ainda estão ali. Emocionei-me ao vê-las. Sonhavas com tantas coisas... Ao entrar no pequenino quarto de Peter, lembrei-me de tuas longas conversas com o menino. E lá no sótão, onde estavam guardados os mantimentos, tu e Peter olhavam as estrelas. E então vi teu diário, o primeiro, aquele axadrezado, que recebeste ao completar treze anos. Pude ver tua letra, tuas palavras e e tuas colagens. Nestas folhas estão registradas teus sentimentos e as vivências durante o isolamento. Teu medo, Anne, tua dor e tua angústia. É comovente. É triste demais.

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Voltando...

A amizade é um amor que nunca morre...
Mário Quintana

Hoje reiniciam as aulas. Depois de várias semanas de férias, é bom voltar à rotina novamente. Christian foi de bicicleta para a escola com pai, assim como faz todas as manhãs – também no inverno. As aulas de Matheus, que está no ginásio, iniciam somente amanhã. Durante este período em que estive ausente, recebi a visita de minha afilhada do Brasil. Com ela viajamos um pouco por aqui. Foi muito bom, pois visitas da família e amigos é algo muito precioso para mim. Agora, pois, tenho tempo para me organizar, pois em setembro – dia 2 – visitarei a patriazinha para festejar o aniversário de minha mãe. Chegarei em plena primavera, quando os ipês estarão floridos. Mesmo depois de tantos anos, toda viagem ao Brasil é como se fosse a primeira. A emoção de voltar é cada vez mais intensa.

Amigos queridos, perdoem este silêncio sem aviso prévio. E obrigada pelos comentários, pela procura e pelo carinho. Saudades!

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