sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Feira do livro


...e os jacarandás em flor.
Vontade de estar lá!


Imagem, aqui!

domingo, 24 de outubro de 2010

Procura

Saber quem era passou a ser sua principal preocupação. Por um bom tempo pensava ter- se encontrado. Mas fora engano. A busca foi violenta, e sim: houve achados. Mas estas descobertas não bastaram, ou já não traziam a verdade toda. Sentia que havia associações ainda não reveladas e seu eu-centro adquiria uma imensa ramagem de características, e nelas se perdia. Olhando a sua biografia, perguntava-se: por que é tão difícil saber quem sou? E se perguntasse aos amigos, aos familiares sobre sua pessoa?! Não seria bem mais simples ouvir a voz de um amigo do que procurar incessantemente por si mesma? Encontrar a si mesma era, no entanto, sua principal meta e esta já se tornara uma obsessão. Talvez houvesse mudanças em sua personalidade. Definir tantas formas de ser é deveras complicado. Mas a questão não era a metamorfose atual que acontece de tempos em tempos, dia a dia. Havia ainda algumas partes não encontradas e a busca galopava em espaços temporários já desbotados. Lá longe, no túnel de seu tempo, haviam minúsculas cenas de vida que dançavam como silhuetas diante de uma luz forte demais. Sabia que poderia decifrá-las, mas era preciso chegar mais perto. Chegar mais perto do longe. Estendia suas mãos e seus passos pisavam em lugares que tão bem conhecia. Aromas de flores de laranjeiras indicavam um caminho... era como um déjà vu. As partículas se entrecruzam e o todo é um enigma.


Imagem: leelloor

sábado, 16 de outubro de 2010

Outono


Passeio pelo parque. O vento sopra... folhas caem. O outono traz em seu fascínio um rastro de tristeza. É uma tristeza aquietada sem dor, uma sensibilidade evidente. São vestígios de melancolia que inspiram e que envolvem. De forma lenta e harmoniosa, a natureza cobre o mundo com as cores da estação fria que... já não tarda. As tardes estão silentes, levíssimas. O mundo parece um milagre matizado. As árvores, antes verdes, agora estão pintadas, todas elas. Há um mesclado de cores, tonalidades de vermelho e amarelo. As maçãs caem no chão e as pessoas colhem cogumelos silvestres. Pequenos arbustos se retorcem irrequietos com o vento. Sinto uma aragem de nostalgia, quase repousante. Tomo o caminho de minha casa, encontro-a cheirosa. Seu aconchego me afaga. Ligo um abajur. É hora de ler bons livros, convidar os amigos e conversar longamente. Há por aqui um tanger de tranqüilidade, um excesso de quimeras. A luz do sol já foi embora, esmoreceu atrás da colina. Anoitece quase vertiginosamente, e eu escrevo. A linha do meu pensamento é como um fio aveludado e macio que, aos pouquinhos, vai-se desenrolando do novelo, formando uma rede. Em cada palavra que escrevo, vai um laço de sentimento que é levado para longe.

domingo, 3 de outubro de 2010

Meu voto

Embaixada do Brasil em Copenhague

Hoje, cedinho, subi em minha bicicleta e fui até à Embaixada do Brasil e, como todo brasileiro, deixei meu voto na urna, garantindo o meu dever com a Pátria. Como boa democrata que sou, fiz questão de ir antes de tomar o café da manhã. A maioria dos dinamarqueses ainda dormiam e os brasileiros, àquela hora, também. Mesmo que eu soubesse que no Japão e na Austrália muitos conterrâneos expatriados já tivessem votado antes de mim, ainda assim me senti feliz, um tanto fiel, em iniciar meu civismo cinco horas antes das zonas eleitorais estarem abertas no Brasil.

Escolher um presidente, através de um voto direto é, sem dúvida, um privilégio de poucos. Há quinze anos vivo fora do Brasil. Naturalmente, o espaço temporário que me distancia de meu país não é motivo para me tornar indiferente em relação a nossos problemas sociais que, aliás, ainda bem conheço. Com o passar dos anos, porém, criei uma nova forma de coordenar os dois mundos que fazem parte de minha vida e, pelo que me parece, fui embalando e ninando minhas preocupações com a pátria amada a ponto de adormecê-las. Acompanho com uma devida distância o andamento político e econômico do Brasil. Hoje, ao passar por largas ciclovias a caminho da embaixada, confesso, me senti um tanto mais dinamarquesa do que brasileira. Percebi que ando fora de forma em termos de conjuntura nacional, e eu me sinto irresponsável com meu voto secreto.Ao voltar da Embaixada, ainda emocionada com meu dever civil, cheguei à conclusão de que o melhor candidato somos nós brasileiros – os cidadãos comuns – os que sentem na pele e na alma este artefato de dificuldades sociais e, não por último, a desonestidade de alguns políticos. E eu aqui, nestas lonjuras, vou contornando e construindo a pátria do meu jeito: um lugar luminoso e afável – a terra de meus sonhos. Meu discernimento talvez seja irreal e ingênuo. Mas este é o meu voto. E o meu direito.