sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cristais

O telhado lacrimeja. Será chuva? Não, é a neve que está derretendo. Sua beleza nívea ainda ofusca meus olhos. De silenciosa passou a falar. Os pingos que caem parecem esconder vozes... Ou palavras, palavras lavadas e leves que caem do telhado. Eu recolho algumas na palma de minha mão, mas de tantas... já enchi uma página de poemas fluidos. Agora a neve está molinha e parecem favos – favos alvos. Ela está fraca e se esvai como uma nuvem que se perde no infinito. A coisa alva que cobre o mundo voltará, quem sabe, somente depois dos ciclos. Coisa branca, o que é? Ela tem um condimento mágico e enfeita tudo com seu frio magistral e com seus cristais unidos. Ao olhá-la, o pensamento cria asas, adquire espaço e liberdade. Neve é luz, é transparência melancólica, tal qual plumas claras que roçam o mundo. E ali ficam a namorar. São carícias. Agora, manifesta-se em gotas, enquanto o sol se espreguiça por sobre as telhas de pedra e escava um espacinho morno...

A neve que tu me deste era um cristal e agora... já quebrou.

Imagem by -crimsonpenguin

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Odisseia

Era hora de voltar. No aeroporto em POA nos informaram que nosso voo para SP teria um atraso de 20 minutos. Vinte minutos? Tudo bem, chegaremos em tempo, sem preocupações. Todavia, os minutos se transformaram em horas... duas... três... Quatro horas! Assim sendo, perdemos nossa conexão para o voo transatlântico em Guarulhos. Ficamos hospedados por conta da TAM num hotel nas proximidades do Aeroporto Franco Montouro e o atraso total foi de 30 horas. O caminho de volta foi longo, 53 horas em trânsito. Espaço longo demais para aguardar o momento de chegar. Ainda que parecesse interminável, o tempo passou e chegamos bem.

Tempo que faz pensar. Tempo que estava em mim de forrma concreta e que causava imaginações ora repousantes, ora ensandecidas. Um livro para ler, uma revista para folhar num quarto impessoal de hotel, num banco de aeroporto, numa poltrona de avião. De página em página, os minutos para conferir. E que tão vagarosos estes relógios! Será que pararam o tempo? Estava sendo injustamente lerdo e eu o empurrava com cada página que virava no livro que estava a ler. Muito tempo este... (e que preguiçoso!) que me levou aos limites de minha paciência já tão exaustiva. No entanto, realizei a prova com bravura.