O telhado lacrimeja. Será chuva? Não, é a neve que está derretendo. Sua beleza nívea ainda ofusca meus olhos. De silenciosa passou a falar. Os pingos que caem parecem esconder vozes... Ou palavras, palavras lavadas e leves que caem do telhado. Eu recolho algumas na palma de minha mão, mas de tantas... já enchi uma página de poemas fluidos. Agora a neve está molinha e parecem favos – favos alvos. Ela está fraca e se esvai como uma nuvem que se perde no infinito. A coisa alva que cobre o mundo voltará, quem sabe, somente depois dos ciclos. Coisa branca, o que é? Ela tem um condimento mágico e enfeita tudo com seu frio magistral e com seus cristais unidos. Ao olhá-la, o pensamento cria asas, adquire espaço e liberdade. Neve é luz, é transparência melancólica, tal qual plumas claras que roçam o mundo. E ali ficam a namorar. São carícias. Agora, manifesta-se em gotas, enquanto o sol se espreguiça por sobre as telhas de pedra e escava um espacinho morno...
A neve que tu me deste era um cristal e agora... já quebrou.
Imagem by -crimsonpenguin