sábado, 19 de novembro de 2011

São Petersburgo

Estávamos na estação Leningrado - em Moscou - de onde partem os trens para a cidade russa São Petersburgo. Para mim não era uma estação qualquer, pois eu lembrava de Anna Karenina – a personagem principal do romance de Leo Tolstoi, que viveu um amor trágico, levando-a ao suicídio. Viajaríamos, pois, pelo mesmo trajeto a caminho de São Petersburgo, tal qual a bela e aristocrática Anna o fizera, a mulher adúltera que desafiou todas as convenções sociais para viver uma paixão avassaladora em pleno século 19. Imaginava-a caminhando de um lado para o outro, arrastando a cauda de um de seus adoráveis vestidos por sobre a plataforma da estação.

São Petersburgo estende-se magnífica por sobre 42 ilhas, traçando largas avenidas, frondosas praças, palácios e templos. Com certeza, é uma das cidades mais fascinantes do mundo. A sua história foi escrita por czares, por nobres e por intelectuais. No entanto, São Petersburgo é também a cidade dos artesãos, dos operários e de muitos estudantes.

Andei por estas ruas banhadas de águas e me encantei com a beleza lírica desta cidade... adormecida pelo frio do inverno. Vi as pessoas a caminho de uma nova história. Estavam em busca da democracia plena, protagonizando um conto vivo e real, numa cidade de vestígios deixados pela aristocracia dos czares e pelo desconsolo do regime socialista. Atravessei inúmeras pontes e o ar gelado de fevereiro petrificou meus pés, fazendo-me lembrar que eu estava a passear numa das cidades mais nórdicas do mundo.

São Petersburgo, matriosca princesa. Um lugar propício para sonhar e amar, em longas noites iluminadas, quando o sol nunca se põe - noites brancas. As pérolas arquitetônicas às margens do Rio Newa, brilham em lindas cores pastéis e as cúpulas das igrejas douram o céu dessa metrópole romântica, definitivamente bela.

Imagem, aqui!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Rebento


Mami, auch wenn man kein Schatz gefunden hat ist man reich...
Ja, Mami, weil man eine goldene Stimme hat!
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Estás um homem. Quase nem percebi que o tempo te fez diferente. És do mundo, eu sei. Te deixamos esta herança. Tens três culturas em ti, e nelas formas tua personalidade. Amas cada uma delas como se fossem três pátrias. Todavia, na forma descontraída de viver e na espontaneidade de levar os dias... nisto és puro - em ti está a cidade em que vives. Das outras, levas apenas fragmentos, laivos característicos de usos, de costumes e de afeto. Saíste do berço e te deixas moldar pela vida, ainda tão tenra a idade. Encantada, ouço tuas conversas com teu pai. Impressiono-me com teu conhecimento sobre cinema, política e literatura. Ainda nem caminhavas e já provavas o sabor dos livros - hoje continuas leitor apaixonado. Me ensinaste tantas coisas... Com o dedinho, acariciaste as letras ilustradas do livro de Michael Ende. Tal qual Bastian, me falaste, entusiamado: Mamãe, olhe como são lindas! O curso de filosofia na escola te trouxe uma base ainda mais sólida. Com os olhos flamejados falas de Sócrates, de Kant e de Sartre. Colhes ideias e teorias que te possam ser úteis. Se te embalei por tanto tempo, hoje és meu porto seguro. Procuro-te quando o caminho se bifurca e tu, com esse sorriso meigo, me abraças. Tens a compreensão e o carinho que me fortalecem. És do mundo... e nele mergulhas em saltos profundos. Tuas mãos tocam a liberdade e a delícia das paixões. Te deixo voar!
Imagem: Ilaine

domingo, 6 de novembro de 2011

Infertilidade


O vazio me povoa. Tento escrever – digito e apago. Procuro encontrar a palavra certa e não a encontro. Exercito segurar alguma, mas todas estão tão lisas e escorregam de mim, feito peixinhos. E os temas? Nem estes me agradam e, assim, o texto não nasce. Estendo os braços e retiro o livro de Clarice da estante. Leio algumas passagens e ela me fala com sua autenticidade pura. Conta-me as coisas como se por um acaso a tivesse encontrado ao dobrar a esquina de minha rua. Para não esquecer enche meus olhos de admiração. Lembro-me então, de meu desespero e tenho vontade de me esconder atrás de mim mesma, como muita vezes faço. A minha escrita não acontece e eu procuro engravidar-me de palavras. Mas a concepção só é possível em dias férteis. Decididamente, estou num período desapropriado. Ou sempre estou... Mas, que meus textos nasçam de forma natural, sem grandes esperas e sem preparações precoces. E que eles sejam o espelho de loucas paixões... Estendo os braços e tiro da estante Perto do Coração Selvagem e leio: Grito-me. São raros os instantes.

Imagem: Ilaine