quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pouso

Procuro o sopro da palavra que dá vida aos sussurros.
Clarice Lispector

Deixei que o tinteiro secasse aberto por sobre a mesa. E o azul líquido escorreu por sobre a folha e desenhou uma espécie de nuvem - a nuvem, na qual andei neste tempo. Ela me carregou para outros lugares e me mostrou espaços até então desconhecidos. Voei perdida e, desesperadamente, queria me encontrar. A maratona foi intensa e me ensinou tantas coisas. Hoje, nesta manhã fresca de quase outono, a nuvem pousou e eu voltei a escrever. O coração está todo tomado e os olhos úmidos. É inexplicável, mas existe em mim todo este sentimento. É quase dor. E eu ligo para tanta coisa. Me envolvo com tudo e sinto este gracioso soar de cada palavra - que me envolve e que me molda. E a beleza desse instante é um arabesco raro, cuja forma vergada me fascina e me irrequieta. São os laços que me prendem... eu soltei as cordas, mas nunca me distanciei do cais. O tinteiro está com tinta nova. Desenho palavras. Regresso.

Imagem: Ilaine