segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Trier



Três meses depois, nossa mudança estava a caminho de Copenhagen. Na verdade, não esperava deixar a Alemanha tão cedo, a não ser que fôssemos voltar a morar definitivamente em meu próprio país. No entanto, os rumos que tomamos eram opostos. Estávamos deixando para trás a pequena cidade de Trier que para mim, entrementes, havia se tornado uma espécie de home. Aprendera a gostar daquela região pela qual viajávamos sempre, conhecendo pequenas aldeias, onde os vinhedos silvestres cresciam nas paredes de construções quase milenares. Lembro-me das margens bonitas do Mosela, do Saar e do pequeno rio Sauer - quase um riacho -, que faz a divisa entre a Alemanha com o país de Luxemburgo. Chorei ao deixar minhas amigas que, ainda há pouco, eu acabara de conquistar. Levei na mala um álbum de fotografias, confeccionado por elas em segredo. Muitas tardes alegres de verão, assim como intermináveis dias frios de inverno, havíamos passado juntas. Inventamos a noite da mulher, quando nos reuníamos uma vez por semana, sempre na casa de uma, alternadamente, para saborear o prato predileto da anfitriã. Falávamos de moda, de viagens e de livros. Como eu era estrangeira e procedente de um país para elas exótico, enchiam-me de perguntas. Queriam saber sobre o Brasil, nossos usos e costumes. Falava-lhes, então, sobre minha vida latina, enquanto observava os olhares curiosos e surpresos dessas mulheres européias, que nunca haviam visto uma bananeira e muito menos uma laranjeira em flor. Sentia-me uma pessoa privilegiada por ter nascido num país tropical e por saber desde menina que um abacaxi não cresce em árvore. Despedi-me de Ruth, de Sabine, de Anna e de Brigitte. Fui embora, em busca do Norte Europeu.

15 comentários:

Canto da Boca disse...

Eu fiquei embriagada com e pelas cores, os sabores e os odores do texto, vislumbrei o olhar curioso,os atentos ouvidos e a admiração de cada uma das suas amigas e interlocutoras, e é exatamente assim que somos vistos pelos europeus: exóticos! Eu até gostaria de saber o significado disso, mas aí é outro papo, uma discussão sem fim...
Um beijo Ilaine, ótima semana!

Sueli Maia (Mai) disse...

Você me emocionou.
Coisa linda, Ilaine, coisa linda!
Te confessar...
Bem recentemente me peguei pensando as órbitas, as distâncias, e o quanto 'estrangeiros', orbitamos distantes de nós.
Então pensamos em paz mundial, a paz permanece distante de nós. Contemplamos o ecumenismo e a tolerância se mantém distante de nós.
Idealizamos um mundo sem fronteiras e nos 'entrincheiramos' em nosso conforto, medo e desconfiança.
...
Então leio esta página de teu livro vivo e me emociono.
Porque você narrou com a mais pura beleza, a tolerância e a paz. Promovendo encontros de mulheres, você promoveu uma paz possível.
Em cada encontro, barreiras culturais foram quebradas e a união e tolerância se fez possível possível.
Isto não é utopia, não é contemplação e não é apenas um 'ensaio'...
Isto é prática, é vida numa paz real.
.
Obrigada, querida.
Parabéns.
Lindamente escrito.
És uma escritora, tu sabes, não?
Beijos,

Luiz Caio disse...

Oi Ilaine! Bom dia!

Eu não consigo se quer me imaginar vivendo longe do nosso querido país! O Brasil, apesar de todas as dificuldades dos países considerados de 3º mundo, tem uma imensa riqueza natural: A agua,as matas, a amazônia especialmente, áreas territoriais, enfim... Você sabe bem melhor que eu sobre estes assuntos! Mas mesmo amando tanto este nosso país, não posso negar que sinto uma imensa vontade de estar aí com você, passeando por estes lugares maravilhosos que você nos dá a oportunidade de conhecer, um pouco, através dos seus belíssimos textos e imagens com os quais nos brinda frequêntemente aquí neste seu apaixonante espaço!

É BOM DEMAIS VIR AQUI!

DESEJO-LHE UMA LINDA SEMANA!

BEIJOS.

Paula disse...

Realmente, amiga, ser brasileira éum privilégio! Beijo!

Daniel Hiver disse...

A vida é assim, Ilaine. Amigos demoram para aparecer e, depois que aparecem, somem com uma naturalidade assustadora.
Aqui no Brasil, ou do outro lado do mundo, pessoas vão e vem e sentimos ter de ir ou ficar sem sua adorável companhia.

Anônimo disse...

Vc sempre com textos ótimos que emocionam a gente.
Bjs.

meus instantes e momentos disse...

muito bom bom o texto.
Voce mostra o que escreve , é bom assim.
Gostei muito daqui.
Tenha uma feliz semana.
Maurizio

eder ribeiro disse...

Querida Ilaine, o bom de tudo isso é saber que deixamos amigos e muitos deles ficará em nós pq eles fazem parte de nossa história. Um beijo carinhoso.

lula eurico disse...

Vc nos enche de ternura com esses Ensaios. Bom saber das tertúlias em Trier.
Cá no Brasil fazemos feijoadas com chorinho. rsrsrs Cá entre os meus amigos, há sempre uma seresta. Isso nos une, nos aproxima.
Ah, às vezes rola tb um maracatu, feito pelos mais jovens, com aquela energia que a todos contagia.
A amizade é uma dádiva em qualquer parte do planeta, né mesmo?

Abraço fra/terno.

Josselene Marques disse...

Ilaine:

Seu jeito de escrever me encanta sobremaneira. Viajo nas imagens, que você constrói, neste suave e inteligente agrupamento de palavras.
Tenha uma linda semana.
Abraço bem brasileiro para você.

lula eurico disse...

Vim te felicitar mais uma vez por esses Ensaios. E pensar que vc iria guardar tudo isso junto com o Baú. Graças a Deus temos vc por aqui. E os que te querem bem, com eu, estão felizes!

Abraço fra/terno.

Ilaine disse...

Aqui estou, emocionada...
Obrigada, Eurico! Obrigada queridos amigos! Beijo!

Zeca disse...

Essas tuas lembranças, tecidas com os fios extraídos da ternura, soam como sonhos, sonhos bons que nos fazem acordar com saudade.

Berê disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Berê disse...

Ilane, ler seus ensaios é viajar, aprender, emocionar-se. Já começou a escrever seu livro? Não? Tá mais do que na hora. Estou aguardando ansiosa....
Beijos