segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Maris


...recordo nossas tardes de domingo ao sol.

Lembro de ti, Maris, a menina loira de meus dias de infância. Teus olhos azuis expressavam um carinho sólido. Falavam nesse silêncio constante e profundo que neles existia. E em ti havia tanta coisa escondida e calada... Medias as palavras. Preferias balbuciá-las de mansinho, em fragmentos monossilábicos. Falavas com vozes de aquarela, timbres suaves saiam de tua boca e te deixavam ainda mais branca, quase frágil. Ah, Maris! Dizias que eu era muito rebelde. E olhe, a tua sensatez me feria a pele. Eu te amava com toda a estrutura de tua alva estampa, mas morria de raiva da prudência que te seguia. Aceitavas as regras impostas por Dalila como um sacerdócio. Teu coração era puro de travessuras. Eu acompanhava-te, é verdade, mas meu olhar parava em outras órbitas. Muitas vezes esquecia da menina comportada e me entregava por inteira às aventuras. Eu me empolgava e já nem lembrava das recomendações de nossas mães. Sovava e espalmava a vida, feito uma massa de pão que crescia em minhas mãos. Quando brincávamos à beira da água, escolhíamos para ti nomes de artistas loiras - as mais bonitas e famosas - e nelas encorporavas com a parte mais tênue de teu talento representativo. A Maris que eras, não permitia que assumisses uma outra identidade, o pincel que usavas para representar, era de finíssimos fios. Teus traços são mais profundos.

11 comentários:

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Ilaine, que boas lembranças hein! Bom guardar esses momentos, eu guardo muitos também e compartilho-os novamente sempre que posso quando encontro com meus amigos. Por onde anda a Maris? Acho que ela gostraia de relembrar esses momentos contigo...boa semana Ilaine...um abraço na alma...bjo

Luiz Caio disse...

Oi Ilaine! Bom dia!

Que delicado conto! E quanto sentimento!... Só mesmo você Ilaine!

TENHA UMA LINDA SEMANA!

BEIJOS.

Dilberto L. Rosa disse...

Doces lembranças de alguém que aparenta guardar a poesia de calor de um país à distância... Friamente linda sua cidade, parabéns por tão bem captá-la! Abração!

Anônimo disse...

Oi querida!
Vim te desejar uma semana maravilhosa!
Bjs.

Paula disse...

Hhhmm... Alterego??? Tão puro! Beijo, amiga!

Magui disse...

Li muitos textos seus . Como vc escreve bem!!! Ainda mais que está tanto tempo longe de sua língua pátria e noto que os blogueiros que passam por isso vão , pouco a pouco, esquecendo o belo português e suas nuances.Depois ficam amargos, odiando cada vez mais o Brasil.Que alívio saber que tem brasileiro que mora fora e não passa a vida falando mal de tudo que é Brasil.

Canto da Boca disse...

... E essa menina travessa, rebelde foi para tão longe, embora jamais as memórias, as gentes e seu país, tenham saído dela.
Lindíssimo, como tudo, Ilaine.
Um beijo grande, minha linda, e eu ainda vou responder o email...
;)

Passageira disse...

Eu até poderia ficar aqui falando do qto são belas as suas lembranças. Mas seu estilo poético me encanta tanto que volto à leitura só pra me deliciar das imagens que vc constrói! Tão lindo este jeito de escrita! Lindo, terno e criativo! E eu aqui babando...rs...
Beijo, mocinha!

Beti Timm disse...

Vejo teu texto como bordados delicados, suaves em uma tolha alva de linho, onde esses bordados, traços se mostram com magia me trazendo serenidade. É como me viesse o desejo de adormecer olhando esses traços. Adoro teus textos, tão plenos e sensíveis. Você sabe o quanto te admiro!

To olhando tua fotinha e pensando que és como imaginei, delicada e sensível, transmitindo confiança

Beijinhos

Luis Eustáquio Soares disse...

salve, ilaine, que o rumo do rumor memorial de sua prosa, humor e amor, em busca do tempo perdido, é esse buquê de sinestesias, devir impressionista que que as palavras-tintas se espalham na tela virtul, pintando o sete.
saudações,
luis de la mancha

Germano Viana Xavier disse...

recordações que nos fazem humanos. seríamos os mesmos sem as lembranças?


Bom sábado, Ilaine.
Continuemos...