domingo, 24 de outubro de 2010

Procura

Saber quem era passou a ser sua principal preocupação. Por um bom tempo pensava ter- se encontrado. Mas fora engano. A busca foi violenta, e sim: houve achados. Mas estas descobertas não bastaram, ou já não traziam a verdade toda. Sentia que havia associações ainda não reveladas e seu eu-centro adquiria uma imensa ramagem de características, e nelas se perdia. Olhando a sua biografia, perguntava-se: por que é tão difícil saber quem sou? E se perguntasse aos amigos, aos familiares sobre sua pessoa?! Não seria bem mais simples ouvir a voz de um amigo do que procurar incessantemente por si mesma? Encontrar a si mesma era, no entanto, sua principal meta e esta já se tornara uma obsessão. Talvez houvesse mudanças em sua personalidade. Definir tantas formas de ser é deveras complicado. Mas a questão não era a metamorfose atual que acontece de tempos em tempos, dia a dia. Havia ainda algumas partes não encontradas e a busca galopava em espaços temporários já desbotados. Lá longe, no túnel de seu tempo, haviam minúsculas cenas de vida que dançavam como silhuetas diante de uma luz forte demais. Sabia que poderia decifrá-las, mas era preciso chegar mais perto. Chegar mais perto do longe. Estendia suas mãos e seus passos pisavam em lugares que tão bem conhecia. Aromas de flores de laranjeiras indicavam um caminho... era como um déjà vu. As partículas se entrecruzam e o todo é um enigma.


Imagem: leelloor

11 comentários:

Unknown disse...

"Perco o desejo do que procuro ao procurar o que desejo ."

Beijo.

Graça Lacerda disse...

...chegar mais perto do longe...

minha querida Ilaine!
Pensei em ti hoje a manhã inteira, amiga, e não sosseguei enquanto não vim!

Mas veja que engraçado, cliquei-te através de outro blog, podes adivinhar qual, não é?

Voltando ao teu lindo texto, penso como o autor de Fernão C. Gaivota, em sua obra:

-LONGE É UM LUGAR QUE NÃO EXISTE!!!

Parabéns sempre e obrigada pela leitura deliciosa!

Beijos da brasileira que te ama,

eder ribeiro disse...

Não se saber deve ser inquietante, mas será que sabemos quem somos? Bjos.

Canto da Boca disse...

Se eu fosse descrever o meu momento atual, seria muito igual a esse texto, Ila!
Ainda acrescentaria a dor de ter que inventar novas paisagens, mudar fotografias... Tá lindo e obrigada por tê-lo escrito!


Beijos e carinho!

Sandra Gonçalves disse...

O auto conhecimento exige esforço e e uma profunda abertura da alma.
BJos achocolatados

Dilberto L. Rosa disse...

Mas não é mesmo esta inquietação que nos move sempre, a nos colher dentre as inúmeras ramagens que somos nós...?! Belo texto, belas elucubrações! Grande abraço!

Anônimo disse...

Ah minha amiga,
vc me fez pensar em tantas coisas!
bjs.

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Ilaine..nossa...um texto que nos faz refletir, muito, diga-se de passagem
Um pedaço falou alto aqui na minh'alma...
"Sabia que poderia decifrá-las, mas era preciso chegar mais "tempo". Chegar mais perto do longe"
Esse era preciso chegar mais tempo de inicio soou como um erro...mas relendo...ficou perfeito...pois pra que a gente possa chegar mais perto do longe é necessário as vezes...um tanto mais de tempo
Um abraço na alma
Beijo

Francisco Sobreira disse...

Pois é, Ilaine, essa busca interior da pessoa é tão difícil quanto a do conhecimento de outro ser. Há muitos que até recorrem à psiquiatria, à psicanálise e, às vezes, se tornam mais confusos. Um beijo

Paula Barros disse...

Ilaine, li este texto enquanto viajava, e senti o sentir do texto. Sei bem como é difícil quando decidimos caminhar por nós mesmos, fazer as descobertas, ouvir as vozes que estão guardadas em cantinhos nunca antes visitado, descobrir o muito dos outros que nos compõe.

Uma vez escrevi que me sinto um quebra-cabeça, onde cada peça é um pouco do outro (pai, mãe, avós, irmãos...e sempre falta um peça...

Lindo texto, pela sua escrita maravilhosa, pelo conteúdo que me fascina...que me vi.

beijo

Sueli Maia (Mai) disse...

Sempre haverá uma luz - nem que seja uma réstia - a luz - haverá sempre.

beijos