quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Cidade

Encontrei-a enfeitada. Meu olhar se perdeu em paredes medievais - algumas coloridas, outras caiadas. As construções não se apresentavam muito altas, e nem tão majestosas, mas belas. As janelas eram como olhos e, tenho certeza, me fitavam. Toda a cidade parecia querer me falar. Os sussurros se entrecortavam. Tantas coisas para aprender e para escutar. Ruelas para andar. E o ar, este cheiro forte de mar. Canais pontilhados de embarcações. Sentia-a muito perto. Ela me acolhia, podia perceber seu afago. Cidade ainda desconhecida para mim, mas não distante. Nem fria. Precisava desvendar seu passado, e seu presente chegava-me de forma vivaz com a brisa marítima que eu sentia em meu rosto. Era assim, nua e crua. Nada queria esconder, sua autenticidade era o início de fáceis percursos. O balanço de minha procura... Ou eu a amava, ou não. Ninguém podia decidir por mim. A única certeza é que eu viera para ficar por um espaço temporário considerável. Um tempo que traria mudanças. E as amarras haviam sido lançadas. Já não poderia soltá-las com minhas mãos. Havia ansiedade. A saudade viera também, eu a identifiquei na proa de cada navio. Ancorara em mim, manifestava-se na nostalgia que os ventos marcavam - em voz alta - na beira do cais. Mas a leveza dos cantos me fascinava: as águas, os jardins, os parques, os castelos. Ouço agora as outras melodias calorosas. São baladas. É o mundo que criei. Urbe herdada - um pouco minha, um pouco moldada, um tanto estranha. Simples, como uma jangada.

Imagem by- ButterflyJewel

13 comentários:

Paula Barros disse...

Ilaine, o seu texto me leva pela cidade, por uma cidade, com cheiros, cores, gente, movimento...mas o que me chamou a atenção é que ninguém pode decidir por a gente, e a gente muitas vezes não percebe que este decidir vai influenciar na forma de ver a vida, e vai fazer sofrer mais ou menos, vai interferir no dia a dia, se ele vai ficar mais pesado ou mais leve.

"Ouço agora as outras melodias calorosas. São baladas. É o mundo que criei."

Lindo texto, todo lindo. E para mim uma lição de saber viver.

beijo

eder ribeiro disse...

Essa relação que nós temos com a cidade, como a sentimos é nossa mesmo. São Paulo, somente a sinto pela visão, isso devido o susto que tive qdo a vi pela primeira vez agarrado nas mãos do meu pai. Era um tapete de carro, a noite, com os faróis acessos, parecendo um monstro de uma série japonesa. Querida Ilaine, ler os seus textos é se deixar levar pela emoção, e eu me deixo. Bjos.

Daniel Hiver disse...

Gostoso andar por essas ruas. sentir o vento no rosto. O cheiro do mar. Os transeuntes apressados. O frio. A música ao longe.
Que tal um cheiro forte chamando para um café?
Que tal uma conversa inteligente do outro lado da mesa?

Jacinta Dantas disse...

No trajeto pelo texto, sinto que vc vai conduzindo o leitor para onde vc quer que ele vá. Gera, em mim, uma cumplicidade legal, como se cada palavra falasse comigo sobre minhas impressões no caminho. Algo parecido com o que senti ontem, ao andar pelas ruas de Guarapari.

Grande abraço

Paulo Francisco disse...

Ilaine, texto muito bom. Viajei e adorei!

lula eurico disse...

Vim te ler/ver. Saudades tb.
O carnaval tem me tomado muito tempo. É uma alegre trabalheira! rsrsrs

Abç fra/terno e carinhoso.

Luis Eustáquio Soares disse...

é esta a escria afetiva que nos afetam no feto eito das palavras no peito, essas desses ensaios sem fim, de dizer-nos, ao te dizer, em ficcionalidades de amar, no liso mar de escrever. simples.
beijos
de la mancha

Loba disse...

As cidades têm olhos sim. E alma e sentidos. E nos adotam quando nos abrimos para aceitá-las. É o que seu texto diz com poesia e leveza.
Tão bom te ler.
Beijocas

ítalo puccini disse...

linda essa tua descrição, ilaine!

há algo de músicas lá no um-sentir :)

beijos!

Canto da Boca disse...

Mas única. Sua. Somente sua. Criada a partir do seu olhar e dos seus sentimentos. Do laço que ambas teceram.

Lindo! Lindo! Linda!

Um beijao!!

Madalena Barranco disse...

Ahh, Ilaine, que lindo... Você recriou o espaço-tempo de uma cidade pelo seu olhar de ser Ilaine, que agora me leva a passear por esse lugar mágico cheio de telhadinhos encantadores.

Não resisti a tanta beleza de escrito e descrita, que tomei a liberdade de linkar seu lindo texto em meu post no blog Pétalas Estelares, meus apontamentos sobre a magia da vida, nas dicas d emeu último post. Se você não gostar eu retiro o link.

Beijos, com carinho
Madalena

BLOGZOOM disse...

Olá querida!

Esta imagem com telhadinhos vermelhos é muito linda.

Gosto de seus textos, eu me perco um pouco neles, como se fossem passagens de sonhos, momentos vividos.

Beijos

Claudia Liechavicius disse...

Menina! Que lindo. Seus textos conduzem a imaginação de quem os lê para dentro deles, em profunda reflexão.
Basta compilar e publicar um livro maravilhoso.
É muita sensibilidade!!!!!
Bjs
Claudia