Então ele me perguntou: Ilaine, você conheceu minha namorada?
( E eu a imaginei diva, com cabelos
ondulados, usando um chapéu de abas caídas e
um vestido deslumbrante - belíssimo). Com o olhar longo de saudades, falou-me que, se estivesse viva, faria 90 anos. Todavia, ela fora embora. O acidente de carro roubara-lhe a vida, precocemente.
Ruth era o nome dela. Disse-me que escrevera muitas cartas para sua
namorada, pois a distância impedia a presença, naqueles longínquos
anos da década de 40. Eram em torno de quatrocentos relatos,
disse-me; quatrocentas trocas de amor caligrafadas. Ao narrar,
desenhava momentos de forma precisa e em cada palavra pude perceber o
amor imenso que lhe tivera. Em meus olhos marejava uma lágrima...
enquanto ele falava. Então me mostrou algumas fotografias de sua
amada... era uma pequenina pinacoteca na parede de sua casa; e eu
pude vê-la jovem, com seus dezesseis anos, a seu lado. Surpreendi-me
com sua serenidade, enquanto contava. Vestiu o coração sem nenhum
estigma de angústia. A dor da perda transformara-se em saudade
profunda. Sim, havia muitos anos... muitos meses e tantos dias. A
ausência já tornara-se sépia e desbotada. E mesmo que não falasse
dela, mesmo que se calasse – dela estava por falar. O rosto
iluminava em sorriso, os momentos se repetiam e o romance estava por
ser despertado, tal qual a flor da aurora, depois de um longo sono
hibernal. Lembranças flutuavam pela sala envidraçada, enquanto que
a vida reflorescia em cada palavra sua. Olhei as flores no jardim –
elas testemunhavam a nossa prosa - e tudo, tudo me tocava de forma tão
intensa. Eram recordações suas, transparentes e claras, como os
vidros que protegiam a sala em que ora nos encontrávamos. Ele e eu.
Ao descer as escadas de sua casa, vi-o de bengala. Quanta admiração
tenho-lhe, professor – queria ter dito. Contudo, despedi- me com um
abraço e segui o caminho para minha casa. O vento soprava forte e
nostálgico, como se me transportasse para uma outra época. Ainda
pude ouvir suas palavras:
- Você conheceu minha namorada, Ilaine?
E eu, infelizmente, nunca a conhecera.
Para: Hans Günther Naumann.
Para: Hans Günther Naumann.
Texto/Fotografia: Ila
9 comentários:
Que prosa poética de palavras e imagens que molduram o cenário do encontro de ontem e de hoje.
bjs.
Amei
Minha querida Ila, vc não queira saber o qto saudoso sou das suas crônicas, tê-las aqui é nutrir de poesia pura. Bjos carinhosos.
Lindo te ler, entrar no quadro, nas situações que nos trazes. Muito lindo! beijos,chica
Ila, tem uma resposta no meu blog para o seu comentário. Gostaria que desse uma lida. Bjos.
Eder, amigo!
Obrigada por tamanho carinho.
Encontrei por estes caminhos pessoas belíssimas - e uma delas é você. Já percebeste que já nos conhecemos há anos virtualmente? Bonito isto!
Você também me inspira!
Beijo
Tão lindo... tão lindo...
Seja bem-vinda minha querida, sendo amiga do Toninho é amiga minha também. tive lendo alguns dos seu escritos , tens muita sensibilidade, esta do professor é linda parabéns amiga. Um abraço fraterno Celina
Ilaine querida!
Saudades dos seus lindos textos. Sensibilidade incrível sempre em suas crônicas.
Adoro passar por aqui e ver que sua inspiração bateu com força.
Tenha um ótimo final de semana!
Bj
Claudia
A medida que seu professor falava, parecia que você pintava essas doces recordações num quadro para que pudéssemos ver.
Suave escrita
Zizi
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