terça-feira, 11 de agosto de 2015

Macabéa

Macabéa é inocente, de identidade reprimida, um risquinho de gente. É menina nordestina, pobre guria que veio ao Rio de Janeiro em busca de trabalho. Existência de miséria, órfã de pais, de sonhos e de ambições. Todavia, tem uma certeza, a certeza desesperada de não ser ninguém. Com seu rosto desfigurado, magra, consome cachorro quente. Um imenso nada a rodeia. É carente de tudo, até de palavras. E de um ser humano. Macabeazinha da cartomante. O seu benzinho, sua florzinha, a coisinha engraçadinha: sua filhinha. Nunca antes sentira tamanho carinho e, de repente, é concedido em forma de furacão. Agora sim: Macabéa está grávida - grávida de futuro. Ao sair da casa da cartomante, está embriagada de sonhos. No entanto, ali mesmo, numa rua qualquer, tudo é desfeito. Desejos roubados. O fiapo de esperança e todo o arrebatamento são destruídos para sempre. Um aborto. A Hora da Estrela. Ah, menina! Que metáfora de nossa realidade nas páginas desse romance, querida Clarice. Macabéa – menina mulher – em nós espelhada. 
Somos tantas!


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