quarta-feira, 26 de maio de 2010

Minhas árvores


Minha paixão pelas árvores era translúcida. Para elas confidenciava minhas aflições e minhas travessuras. Conhecia cada ramo, suas curvas, as folhas, seus nós, flores e frutos. Observava a vastidão de suas estruturas, assim como seguia as linhas de minhas mãos. Numa fração de segundos, subia em seus troncos, feito um filhote de primata. Formigava os galhos com resguardo, procurando não machucá-las. Quanto mais penosa a subida, tanto mais interessante a conquista de sua copa. Levava longas conversas com estes seres serenos e pacíficos. A grande vantagem que as árvores me ofereciam era a certeza de que jamais contariam meus segredos para ninguém. Havia cumplicidade e honestidade entre nós. Todos os anos, quando visito minha família, vou ao pomar da casa de meus pais. Reencontro minhas árvores, velhas amigas, e invejo suas vidas sedentárias, em contrapartida ao forasteiro em que me transformei. Mergulhadas em seu silêncio, me acolhem e em reconhecem. Torno a abraçar os seus troncos e lhes digo que voltei. Falo com elas, como quem conversa com um bom amigo. Sinto forte e único o cheiro da terra onde nasci. É parte de mim. Telúrico e atávico.

7 comentários:

Unknown disse...

Se revelares os teus segredos ao vento, não o culpes por os revelar às árvores .

Beijo.

Anônimo disse...

Que texto lindo!
Bjs.

Paula Barros disse...

Gosto de ler seus textos. Gosto de imaginá-los. Gosto de observar a construção deles, a forma como você tem as ideias e as transforma em belíssimos textos.

beijo

Jacinta Dantas disse...

Gosto de sentir esse amor que transborda e vai além, vai ao encontro da cumplicidade entre seres diferentes - árvore e gente - feitos do mesmo sopro com a missão de se darem reciprocamente. A troca que fazemos com as árvores, para mim, é algo divino.

Grande abraço

Luiz Caio disse...

Oi Ilaine!
Como vai minha querida amiga?

Nossas origens, o lugar onde nascemos, ou fomos criados, deixam marcas profundas em nossas mentes!
Ainda sinto saudade do bairro onde cresci, e dos amigos que eu tinha!

TENHA UMA LINDA NOITE!

Beijos

Canto da Boca disse...

Que espetáculo! Paisagem de acarinhar o coração, a Ila e suas árvores. Fiquei pensando aqui: deve ser por isso que ela se tornou uma "forasteira" em todos os lugares, uma estrangeira em qualquer lugar que vá, porque as árvores, essas que lhe dão sustentação para caminhar segura em qualquer caminho, estão fincadas, firmes, fortes, solidárias, dando-lhes esse suporte de ir e vir sempre que for necessário, lhe dão raízes e asas. E a nós a possibilidade de sermos presenteados com textos dessa monta.

Deixo-te beijos e carinhos, Ila, minha mais que querida amiga Ila.

Um final de semana espetacular para ti!

Barbara disse...

Invejei-te.
Não tenho uma árvore, não tenho nada, apenas a lembrança de um jasminzeiro da casa da infância.
Tenho sim: uso de vez em quando essência de jasmim.