sábado, 15 de maio de 2010

... a pelejar

Perdoem este lamento...

Estou aqui pensando... sobre o que eu poderia escrever. Hoje falta-me o assunto, o entusiasmo e a valentia. Além de minha inexorável falta de criatividade, tenho a impressão que meus textos são sempre iguais e insípidos. Autocrítica é o meu tropeço. Por ela esbarro depois de cada palavra escrita. Ela me olha de soslaio e lança uma chibatada por sobre meus ombros. Derruba-me com seu brilho fatídico e insolente, e me paralisa. Então, imediatamente, passo a acreditar que o texto é ruim e castigado. Castigado pelo vazio de mim mesma e pela pobreza de meu talento. Assim, pelejo com as faúlhas que passam a invadir meu pensamento. Para me proteger, tomo a espada de minha força e inicio uma luta dilacerante a favor de minha intempestiva intensão de ser escritora. O desânimo fere-me como a lâmina de uma navalha. Neste contexto – perdida por entre a aspereza de minha constante autoanálise - decido-me por um tema e reúno um punhado de ideias. Escrevo uma palavra que se perde sem sentido por entre linhas e frases mal formuladas, o que pontua para o ruir o meu palpável sonho de escrever e de criar. Esta palavra abre um sulco na folha. Ela derrama um líquido quente de agonia. Gruda no lápis e na ponta dos dedos. Ela molha estranhamente esta página. Não há nada de novo. Minha arte é envelhecida e opaca. Minhas palavras – estilhaços de palavras - são fracas e minhas retinas são minúsculas e repetitivas. Somente o emotivo me rege... e faz produzir.


Imagem by ~sajlent

13 comentários:

lula eurico disse...

Deixa-te pois, que o emotivo te leve por essa senda... O emotivo, ou seja, o lirismo é um instrumento de ciência, de descoberta e que faz novas as velhas coisas. Salve o teu lirismo!

Parabéns pela peleja!

Josselene Marques disse...

Ilaine:

Minha amiga, aqui no nordeste, após lerem este "lamento", os mais experientes diriam que "você está reclamando de barriga cheia". Sua autocrítica é cruel e injusta, pois você escreve muito bem - até quando faz um lamento, como neste caso. Sou fã dos seus escritos e, sob o meu prisma, você escreve melhor a cada dia. Quanto à falta de inspiração, é algo comum entre os melhores escritores. Veja só estes versos de Carlos Drummond:

"Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira."

Perdoe-me pelo extenso comentário. É que valorizo, sinceramente, o seu estilo de escrever e quis expressar isto.

Ótimo final de semana.
Abração.

Sueli Maia (Mai) disse...

Querida, este é o dilema de muitos de nós. A crítica, a nossa e a do mundo nos habita e faz sangrar. Vale teimar, Ilaine, seguir, continuar, horas calar mas, expressar, amiga, retirar o amargor das laranjas é preciso para fazer um doce saboroso com leve amargo.

Beijos, @miga, continua a escrever que logo uma outra poesia virá junto a um novo dia.

beijos e bom final de semana

Amor disse...

isso logo a de passar,,,a dias que são nuvens e frio outros sol e calor.
bjs!

Carla disse...

Aliar a autocrítica ao emotivo: equilíbrio perfeito! Vc consegue isso!

Canto da Boca disse...

Eu saúdo pois a tua (pseudo) falta de inspiração, e não consigo dispensar-me das (minhas) repetições: perfeito! Um texto no qual estão presentes os elementos necessários para o deslumbramento, a emoção, a beleza e a sensibilidade. O rigor é de fato muito mais pessoal, muito mais nosso, do que de quem nos lê, e isso é inerente ao excepcional escritor, categoria na qual te integras.

Um beijo grande, Ila!!

Francisco Sobreira disse...

Ilaine,
Ia dizer justamente o que duas visitantes já disseram. Minha cara, quem escreve (pelo menos, os que têm talento, como você), padece do sentimento de auto-crítica, que se acentua com o passar do tempo. Mesmo para se fazer um pequeno texto, o escritor sua, demora a encontrar o ponto certo para desenvolver a sua escrita. Mas, creia na minha sinceridade, você tem criatividade e sensibilidade para produzir textos bons, como o que nos oferece hoje. Um beijo e uma excelente semana.

Dauri Batisti disse...

Ilaine, te elaboras como arte. Tua vida, tuas pátrias, teu "exílio", tuas saudades, teus caminhos, teus sentimentos te escrevem em belezas. Do mais é a escrita que, por consequência, partilhará da mesma beleza.

Renato Oliveira disse...

Achei interessante o que vc pontuou, percebo que a auto crítica pode ser nociva em algumas situações, mas... se ela é capaz de trazer perdas, de outro modo a espontaneidade gera riquesas no discurso pronto! :D

Boa semana, abraços.

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Ilaine, vem cá..como ousa falar assim da sua escrita, se teu próprio lamento é uma belezura de escrita... Faúlha seria o mesmo que fagulha, até enrolei a lingua lendo seu texto...rs
Brincadeiras a parte Ilaine, esta é a melhor parte...quando nos faltam as palavras, falamos sobre esta falta e falando sobre esta falta a palavra não nos falta...
Um abraço na alma, um outro nas palavras e um outro no seu lamento...bjo

Paula Barros disse...

Não deixe a autocrítica perturbar sua emoção que cria e recria. E que faz elaborar tão belos textos.

beijo

Sonia H. disse...

Ilaine querida,

Até o teu lamento é poético!
A tua autocrítica não conseguiu destruir a poesia do teus texto.
Sinceramente, gosto muito de ler o que você escreve. E acho que não sou a única. Aliás, percebeu que eu estou tirando o atraso? Fazia umas semanas que não passava por aqui.
Beijos,

Berê disse...

Sem essa! Seus escritos jamais serão enfadonhos, jamais. Continue escrevendo e nos brindando.