sábado, 21 de agosto de 2010

Entusiasmos

Aqui, onde vivo, falo de meu país, como quem fala de um grande amor.

Algo incrível aconteceu-me outro dia. Quando fui dar conta, estava eu a defender meu amor pela terra em que nasci, uma vez que tive a nítida impressão de ter sido mal entendida por uma conterrânea, que assim como eu, também vive na Europa. Em minha aflição e arrebatamento, procurei defender o carinho que tenho pelo Brasil, tal qual uma leoa atiçada, que protege com voracidade seus filhotes. Depois desse feito inesperado, senti-me fraca e triste por vários dias – era como se tivesse passado por um longo e árduo processo judicial. O simples fato de gostar da cidade em que vivo, levou a interpretações desacertadas. Pois, o carinho profundo que tenho pela pátria, que é por mim amada, nada tem a ver com a afeição que tenho por outras cidades. São sentimentos diferentes e incomparáveis. Meu entusiasmo por minha terra é único e inconfundível. Cantar meu país é algo maravilhoso, e poderia fazê-lo ininterruptamente. Procuro, no entanto, ajustar-me na cultura em que vivo, identificando o seu lado bom, sem ignorar suas imperfeições. E, diga-se de passagem, viver no estrangeiro não é uma dança sobre rosas. Nesse remoinho de percepções, encontro um vasto caminho – ora de pedras, ora de flores - que me concede uma gama muito grande de possibilidades.


Imagem by - P3xelArt

8 comentários:

lula eurico disse...

Os desencontros devem ser grandes, nas pequeninas coisas de uma cultura diferente...
Como falar de emoções, que de tão fundas, em nossa alma, em nossas raízes e caules e folhas e flores e frutas, somos nós mesmos... mesmo que tenhamos uma língua européia, um semblante europeu, uma religião européia...
Debaixo de tudo isso, lateja um nervo da pátria, escorre um fio de leite da mama ubérrima e brasileira, que habita em nossa biologia mais profunda...
Eita!
Paremos por aqui!
As palavras não conseguem dizer o indizível.
Somos cidadãos de um planeta azul, de muitos e diversos azuis...
Amemo-nos pois, embora nessa biodiversidade azul rsrs

Dauri Batisti disse...

Que linda e doída experiência você vive. Aqui, os que compartilhamos pelo blogue seus caminhos, vamos usufruindo do doce que se destila pelas suas palavras dessa densidade de ser BRASILEIRA no estrangeiro, de viver o amor pelo Brasil e o amor pela vida que você tem ai.


Beijo

Francisco Sobreira disse...

Cara Ilaine,
Essas situações são comuns para quem reside num país que não é o seu. Imagine um dinamarquês radicado no Brasil na sua situação. É difícil para os nativos entenderem que o estrangeiro, ao se ufanar do seu pais (o que é perfeitamente natural), não estejam depreciando o país deles. E presumo que haja quem faça isso, o que, evidentemente, não é o seu caso. Como diz bem você, "o carinho profundo que tenho pela pátria, que é por mim amada, nada tem a ver com a afeição que tenho por outras cidades". Um beijo.

Paulo Francisco disse...

A nossa Pàtria será sempre amada, por nós e por ELES. ¨Brasil meu Brasil brasileiro...¨Adorei o seu texto, o seu desabafo...

Sueli Maia (Mai) disse...

É compreensível o que você sente e expressa. Há um pouco de você espalhado em cada lugar onde já viveu, e que certamente você gosta e valoriza, mas só você sabe o que sente quando a palavra é o amaor pelo Brasil.

beijos, querida.

Fica bem!
bom domingo!

Paula Barros disse...

Ilaine, acredito que uma vez disse aqui que é muito forte o que sinto ao ler esse seu carinho pelo Brasil, esse carinho que você expressa, mas o que me chama a atenção é também o sentimento que você passa de adaptação a vida que leva fora do Brasil.

E acredito, tenho certeza, que viver fora não é fácil.

Você consegue dizer/escrever esses sentimentos com uma leveza incrível.

beijo

Josselene Marques disse...

Ilaine:

Seu amor pelo Brasil é a prova de que você é uma pessoa íntegra e não renega as suas raízes. Todavia, isso não impede que você ame outros lugares. O amor pela pátria é inconfundível e incomparável. Eu sei bem disto, pois amo o nosso Brasil.
Abraço, minha amiga.

Sonia H. disse...

Querida,
Eu te entendo, pois já me senti tantas vezes assim... Morei na Holanda e defendia o meu país, minha cidade com unhas e dentes...
Não esquente. Eu sei, no momento é difícil, mas depois passa. O que vale é o que você sente.
Um beijo,