Sendai. A menina encontra sua caixinha rosa no meio dos escombros. Passa a mão em seu tesouro e tira os restos de lama. Uma lágrima abre um sulco em seu rosto infantil. Ela procura mais coisas, como quem procura por um sonho. De seu quarto nada restou, não há mais brinquedos, nem livros, nem álbum de fotografias e, nem tampouco, cama e cobertores. Não há paredes, já não existe mais casa. Somente seu baú rosa estava ali, como se por ela esperasse, como se fosse um milagre - tal qual sua vida... que lhe fora poupada. Ela quer entender por que a onda levou tudo o que tinha, tudo o que mais amava. Até mesmo seus pequenos segredos e sua fantasia foram arrastados para o nada perto, para o tudo longe. A menina olha ao redor com desalento. O que vê é um cenário centenas de vezes maior do que tudo o que poderia imaginar. Olha... e vê uma verdade irremovível - a sua. Seu coração bate forte. Como refazer caminhos? Onde buscar um fio de esperança? Em que lugar construir um novo ninho? E as cerejeiras? Elas voltarão a florir?
Menina pequena sente o frio e o vento. Vento que vem do mar. Do mar - que fez onda grande. Menina que talvez se chamava Yasu ou Emi. E tantas outras: Michi, Hari, Kaori, Aika ou, quem sabe, Harume. Um nome, uma história. Destruição e perda.
23 comentários:
O sol se levantou majestoso num céu azul de um verão demorado aqui em Vitória-ES, vou lendo as notícias ainda bem tristes sobre o Japão, sobre o vazamento de plutônio, tornando as coisas ainda mais difíceis para os trabalhadores naquela usina nuclear. MEU DEUS! Venho aqui e me deparo com este texto, tão bem escrito, como sempre, tão cheio de uma triste poesia a falar das perdas daquelas pessoas. MEUS DEUS! Nossas palavras escritas, nossos textos, nossos blogues não param de dizer de nossas resistências, nossos desejos de outros modos de vida, modos possíveis.
Beijo.
As cerejeiras já estão a florir.
Ainda há vida
Ainda há esperança.
Um beijo.
Seu texto é de uma sensibilidade rara, Ilaine. Que bom ter encontrado seu blog.
Beijos.
Esta onde varreu-lhes bens, mas não sua força, coragem e perseverança.
beijos achocolatados
Ilaine, o seu texto me remeteu a um filme japonese sobre um terremoto (o título eu não me recordo), e cujo enredo era sobre uma mãe que vê seus dois filhos soterrados e ela tem que escolher um dos dois, pois ao retirar os escombros, devido a localização o outro morreria. Ela escolhe um, porém o outro não morre e ela não sabe. Os irmãos se encontrarão anos mais tarde, já adultos, atingido por um outro terremoto. O filme é baseado em uma história real. Como se vê o Japão é insistente. Ave o Japão. Deixo o meu afeto.
O planeta vai nos ensinando, com sua inexorável ação, que somos pequeninos diante dele...
Só seremos grandes no amor fraterno, na solidariedade, quando todas as fronteiras acabarem e formos um só povo. Por que os japonese precisam continuar sobre aquela falha tectonica?
Por que os favelados carecem dos nossos morros?
E por que os nordestinos e os povos do saara necessitam continuar na terrível seca?
Construímos uma civilização do Ter, em vez de Ser. E os países não querem perder um metro quadrado de suas terras para abrigar outros povos.
Urge uma mudança de atitude diante do planeta, uma nova e amorosa convivencia entre os povos, urge uma mudança de valores...
E não falo de apocalipse nenhum. Falo da necessidade de globalizarmos a fraternidade.
Abraço fra/terno, amiga.
Ilaine...
Ondas não só "lambem nossas pernas quando estamos de férias num paradisíaco balneário..." Ondas podem ser gigantes e amedrontadoras e levar embora sonhos, velhinhos e meninos...
Ótima e doída homenagem, Ilane!
Triste tudo isso, muito bem proposto.
[]s
Sim Ilaine, obrigado pelas palavras lá no essapalavra expressando suas percepções sobre o meu "continho", inesperado sol. De fato quero dar ao conto o ar melancólico a que você se referiu. O cenário é um parque industrial abandonado, as vidas se cruzam, e este é o inesperado sol, a vida e os seus fluxos, as vidas e as pessoas se atravessando, nada mais além da vida, e isto decerto tem um ar melancólico. Valeu. legal que tenha percebido. Beijo
Ilaine, quantas criancinhas ficam assim a cada tragedia ao redor do mundo? Tão pequenas, indefesas e ainda com tanto a aprender. O que ainda me dói é pensar que além de perderem pertences, perdem os parentes... quem me dera poder acolhe-las... amor tenho de sobra.
Bjs
Qdo tudo é escombro, destruição a única coisa que nos restaré o construir, demolido o antes, aquiteto eu o meu depois. Mas haja força...haja força.
Bjos para a menina e tanats outras...
Erikah
Olá,Ilaine!
A natureza,já há algumas centenas de anos,vem respondendo, ferozmente,aos maus tratos que damos a ela.
Mesmo que achemos injusto tudo o que temos visto ultimamente,é consequência da conduta humana com relação à nossa querida Terra, omando aí a necessiade de acomodação destas forças incriveis.
Mas, resta-nos a esperança do recomeço... E a vida é iso também, um constante recomeçar.
Que Deus dê forças e coragem ao povo japonês... e a todos nós.
Muita paz! Beijossssssss
Oi Ilaine
Que seja harume então...que junte novamnete as folhas e flores
Qu reconstrua uma nova primavera, nem que seja dentro do coração...assim sempre será possível ver brotar um resquicio de sorriso...
Lindo texto amiga
Um abraço na alma
Emocionante, minha amiga!
Bjs.
passando pra te desejar um lindo final de semana.beijos achocolatados
Tantas ondas em tantos lugares, e a ação humana continua degradando, pessoas e natureza em todos os lugares do mundo!
Beijo, Ila!
...traigo
sangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...
desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ
COMPARTIENDO ILUSION
ILAINE
CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...
ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CHAPLIN MONOCULO NOMBRE DE LA ROSA, ALBATROS GLADIATOR, ACEBO CUMBRES BORRASCOSAS, ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER ,CHOCOLATE Y CREPUSCULO 1 Y2.
José
Ramón...
Ilaine..você passou tudo aquilo que a gente via e não acreditava...beijo
eu achei que os dois textos anteriores já tinham esgotado a emoção. neste vc vai fundo no sentimento da gente. e mais emoções afloram.
beijo, moça-poesia!
A natureza às vezes nos assusta. Mas as cerejiras hão de sorrir.
Seus textos são sempre incríveis.
Beijo
Claudia
um nome. uma história. e quantos nomes e histórias somos? maravilhoso teu texto, ilaine! beijos
qua a luz ilumine a pobre menina e a faça ver que nada restou a quem a onda levou, mas restou o mundo para que esta poupou. e só o tempo até apagar o mar de dores que o mar, ao sair do seu lugar, atrás de si deixou. beijos
Ilaine, desde que você colocou este conto que venho aqui leio, acho bonito, triste,me emociono, e não sei o que dizer.
Já voltei várias vezes e não consigo colocar o que leio e sinto.
Sempre bela a sua forma de escrever.
Tenho percebido algumas mudanças no blog, no cabeçalho, e gostei muito, muito, do texto ao lado, sobre as palavras. Me identifiquei. E também gosto de reler ele.
Abraço com carinho, sou sua fã.
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