sábado, 19 de março de 2011

Por contar

A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la.
G. Garcia Marquez

Na quinta feira, eu voltava de um passeio pelo centro da cidade. Com um buquê de tulipas nos braços, ainda tive que comprar pão na padaria bem perto de minha casa. A moça que me atendeu, pelo visto, era nova na padaria, pois ainda não a conhecia. Enquanto ela embrulhava o pão, conversamos algumas coisas. Em face ao meu sotaque - penso - ela me perguntou: De que país você vem? Sou brasileira - respondi, sorrindo. Para minha surpresa, ela então me perguntou: - Entonces usted tiene que hablar un poco de español, ¿verdad? Falei que, infelizmente, nunca havia aprendido espanhol, mas que entendia algumas coisas, posto sua semelhança com o português. Neste contexto, ela falou: Brasil es un país muy bonito! Ah, doce frase! Conversa vai, conversa vem... descobri que a menina vendedora era polonesa e, em sua formosura, disse-me que se chamava Iwona. Nossa, quanta coincidência, falei. Pois, na madrugada daquele mesmo dia, havia levado Christian para o aeroporto, uma vez que estava rumando para Varsóvia, onde está participando de um encontro de alunos de escolas alemãs, sediadas no estrangeiro. Iwona contou-me ainda, que nascera em Cracóvia, uma linda cidade da Polônia.

Que euforia. Saí da padaria misturando os idiomas, com pão e com alegria. Em casa, enquanto colocava as tulipas no vaso, lembrei-me de vários encontros parecidos como este, com Iwona. Muitas vezes assim já sucedeu. São regalos no meio do caminho. Vou empilhá-los.


Imagem:Ila

16 comentários:

Dauri Batisti disse...

Que frase bonita esta do Garcia Marquez!, mas, do mesmo modo linda esta crônica de um encontro que escreveste, e os encontros são os traços que mudam o tom das cores do quadro que vamos pintando na vida, seriam monocromáticos se não fosses estes encontros, BONS ENCONTROS diria Espinoza. Tens esta habilidade de traçar com o cotidiano afetos tão singelos e bonitos. É um prazer sempre a leitura dos teus textos.

Claudia Liechavicius disse...

Ah, Ilaine!
É bom demais encontrar pessoas receptivas para trocar algumas palavras ao acaso. Viva as diferenças culturais, os idiomas e o prazer de compartilhar. Especialmente, guarnecidos de pão com manteiga e enfeitados por tulipas.
Bj
Claudia

Paula Barros disse...

Ilana, adorei a história, e desta frase.
"Saí da padaria misturando os idiomas, com pão e com alegria"

Tenho algumas histórias de encontros interessantes, e sempre dou muito valor, e olho e sinto atentantemente.

beijo

Jacinta Dantas disse...

E levastes à padaria a Tulipa - Amor perfeito - que promove o bom encontro entre as pessoas. E encontros assim, mesmo que dure apenas alguns minutos, a gente leva pelo caminho a fora, com a doçura de uma bela recordação.

Beijo e bom final de semana.

Paulo Francisco disse...

¨Vou empilhá-los¨
Adorei.
Adorei a paisagem do texto, muito bom.
Um beijo.

Canto da Boca disse...

As flores que eu mais gosto são, nessa ordem: orquídea - até tenho uma tatuada -, papoilas e tulipas, simplesmente amo! O que significa que o seu espaço está cheio das mais belas flores, além de você e seus leitores.
Pero lá chica tiene razón nuestro país es muy bello! Lo que pasa es que en América del Sur, casi todos los países hablan español, excepcíon para nosostros, jejeje. Lo que me gusta en los encuentros son las reaciones y lo que se queda en cada uno.
Beso, Ila!

Daniel Hiver disse...

São essas censas do cotidiano, esses incontros improváveis que nos reservam as melhores surpresas. Uma vez eu entrei numa padaria numa cidade do Paraná e visto que ainda estava com todo gás e jeito de falar dos gauchos, olhei aqueles pães convidativos num cesto de cime e abri a boca: - "Me dá seis cacetinhos". A muher não entendeu, com seu espontâneo: - "Como?"... Então eu repeti "seis cacetinhos". Depois me dei conta e tive que explicar que era assim que chamávamos esse tipo de pão no Rio Grande do Sul. E ela me disse rindo, mas rindo muito: - "Aqui são francesinhos!" Aquela mulher da padaria, como a tua daí, entrou para ficar na lista de boas histórios que teremos para contar dos lugares por onde andamos. Um beijo e um bom final de semana... Fiquei aqui pensando. Será que tem pães bons aí? Por aqui os cacetinhos andam tão sem graça!!! rsrsrs

Daniel Hiver disse...

encontros, né... rsrssr saiu lá em cima incontros... será a fome de um cacetinho realmente bom? rsrsr

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Ilaine...olha o Daniel ai falano dos cacetinhos...rsrs
Mas é verdade...ele tem razão...esses encontros assim são muito bons, espontaneos...
Conheci um barbeiro na pequena cidade onde trabalho...quase noventa anos, poucos clientes e já me tornei um quase amigo...ele é todo curvadinho e ainda tem um problema na perna, mas nada que o impeça de continuar trabalhando, produzindo, papeando...
Um abraço na alma...
Beijo
Manda um abraço pra sua amiga...rs
Valeu...boa semana

ítalo puccini disse...

a vida são recontos. achei bonito demais esse teu escrito.

beijos!

Benno disse...

As pessoas dizem que o mundo está perdido, que só tem gente ruim no mundo, mas eu não acho nada disso. O problema é que só a maldade é noticia, a simpatia e a felicidade são coisas que ficam esquecidas nas ruas e não são divulgadas, por isso a tv e os jornais nos transmitem um mundo deformado. obrigado por comportilhar conosco essa verdadeira noticia, de que há tanta gente interessante e bonita no mundo. Beijos

Luis Eustáquio Soares disse...

pão, alegria e tulipas,tudo para regar o cosmopolitismo de uma civilização de e para o comum, onde sejamos nossos cooperativos e amigáveis encontros, sem guerra, sem preconceito, sem exploração, apenas o sem fim do facetoface.

como sempre, querida amiga, a poesia emana dos afetos de suas letras universais-locais.

b
de la mancha

Samaryna disse...

Ilaine, a sua crônica já é enriquecedora pelo que a de poético nela e mais ainda por ter uma mensagem humanista. Deixo o meu afeto.

BLOGZOOM disse...

Olá querida.
Estou um pouco parada, porque estive de mudança e internet, telefone, etc.. não foram instalados ainda!

A minha mãe, que mora em Berlin, adora passear até uma cidadezinha polonesa que fica mais próxima, depois vou descobrir o nome.

No segundo semestre, minha sobrinha caçula vai morar 6 meses na Alemanha. Ela tem 16 anos. Isso é sempre bom para experiencias futuras.

Eu amo tulipas.

Beijos

Anônimo disse...

amo tulipas e amei seu jeito doce de se expressar.
beijao.

te sigo.

Loba disse...

Flores, pão e alegria. E ainda por cima, vidas que se cruzam trazendo mas vidas! Um texto delicioso, querida. celebrar os encontros que o acaso nos proporciona é sabedoria.
Beijocas