Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira.
Luminosidade. Claridade ilustrada... É primavera no hemisfério norte. E eu sinto, aqui e ali, um sopro de boas lembranças. Fachos cintilantes abraçam os minúsculos brotos das castanheiras, acarinhando-os. O sol, agora mais forte, ilumina a terra, e tudo está a renascer. É a dança da natureza que, em ritmo festeiro, transforma-se em aurora. O ar silencioso do inverno é cortado pela alvorada dos pássaros, desejosos e eufóricos. Uma borboleta desliza por sobre os rosados tons da magnólias, roçando seu perfume. A planície está prenha e abundante, a semente rompe. Cerejeiras em flor atraem com sua energia as abelhas em enxames, prometendo uma seara rica e boa. Alegrias renascem e estão a retumbar por toda cidade. Num festival de cores, os cafés espalham suas mesas pelo calçadão e os namorados fazem piquenique no parque. Nestes longos anoiteceres, fico de conversas com minhas amigas na rua, no jardim ou em algum bar. A vida se arrasta lenta e venturosa, como se o calor do sol fosse um presente para fagulhar o pensamento com coisas positivas. Um gosto de mel e um perfume de pólen se espalham pelas ruas medievais. Vou sair por aí para inspirar o ar da primavera. Tudo parece estar feliz, tão feliz. A saltitar.
Imagem: Ilaine