domingo, 18 de setembro de 2011

Pedro

Porque metade de mim é a lembrança do que fui.
A outra metade, eu não sei...
Oswaldo Montenegro


Lembro-me de ti. Teus olhos eram o meu mundo. Por eles eu sonhava sonhos ainda tão distantes. E tu pensavas além... estavas mais longe do que os cumes das montanhas que se desenhavam em nosso horizonte. Vovó Elisabeth falava aos cotovelos. Tu nem a escutavas. Sei que viajavas por outros lugares enquanto ela discursava. E, de repente, este sorriso malicioso que embelezava o nosso instante. Amava-o, simplesmente. Durante minutos eu ficava te olhando e via um homem de cabelos cristalinos a procura por respostas, enquanto sovavas o fumo na palma da mão. Sovavas a própria vida e o cheiro acre do tabaco carimbava nossos laços. E, de tanto te contemplar, também eu me embriagava em quimeras. A fumaça do palheiro se espalhava pelo teu rosto talhado de rugas. Sei que me observavas, e a doçura de teus olhos verdes inflamava minha vida. Falávamos a mesma linguagem – a do silêncio, esta que só as almas gêmeas conseguem decifrar. Dois corações batiam no mesmo ritmo, o ritmo da paixão que nos unia. Eu era a menina-neta que cortejava o mundo ainda tão timidamente. E tu... Ah, tu já havias te tornado avô inúmeras vezes e para mim eras um universo de vida. Falavas a língua alemã com perfeição – quando falavas. Como é belo o passado, meu querido avô!

Imagem: Ilaine

23 comentários:

Anônimo disse...

Tenho que repetir...seus textos exalam tanta, mas tanta ternura que da vontade de ultrapassar a tela e ir dar um abraço bem brasileiro, daqueles em que o coraçao palpita e os olhos lacrimejam, sabe??

Vc é muito meiga.
Quero muito que seja cada dia
mais feliz.

Beijo

Paula Barros disse...

Lembranças boas, que marcaram uma vida, e que vira histórias, e que tem cheiro de saudade.

um forte abraço!

Paulo Francisco disse...

Ilaine, Saudade de você.
Estou aqui parado. Você me deixou a flor da pele. Este texto mexeu, mexeu muito...
Um abraço grande

eder ribeiro disse...

Ila, às vezes eu me pergunto, o que duas pessoas, vivendo em mundo diferente podem ser tão parecidas. Vi meu Vô Pedro neste teus post no relato do fumo e na cor dos olhos e na paixão sua pelo seu e na minha pelo meu. Quando lembro do meu só sou sorrisos. Bjos.

Canto da Boca disse...

Belo, belíssimo texto, Ila! Mais do memória afetiva esse é um belo registro do que és, da raiz familiar que te sustenta mundo afora.

Um beijo, queridona!

jeito simples disse...

Ila querida,
Que doces lembranças de uma relação forte. Que privilégio conviver com um avô. Eu não tive. nem de avô, nem de avó e nem de pai. Ficaram lacunas na alma que as vezes tento preencher de outras formas. Mas sei que é impossível.
Bjos
:)

Eu disse...

As boas lembranças nos tatuam a alma e nos imprecionam quando novamente voltam a arder em nossa alma...
Bons momentos são para sempre!
Tenha uma semana abençoada!
Um beijo carinhoso

Rejane Abreu disse...

Oi Querida!
Perdão pela ausência. Já coloquei o Ensaios no meu blogroll para não perder as atualizações (rs).

Coisa mais linda essas lembranças, amiga! Excelente texto. Profundo na medida certa.

Bjssss

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Ilaine...que bela narrativa, impossível não lembrar de minha avó, que tão bem nos xingava em alemão...rs...uma avó de coração grande, mas de gênio forte também...
Guardo boas lembranças dela, na maioria histórias engraçadas de quando perdia a paci~encia com nossas estripolias...
Um abraço na alma...parabéns pela forma como descreveu esses momentos
Bjo

Benno disse...

Meu avô amava os passarinhos... Eu ficava horas conversando com ele sobre esses seres encantados que são como flores que voam e cantam. Aliás, meu avô amava as flores também. Acho que meu avô era um passarinho disfaçado sob aquelas rugas, que fingia que falava rouco para que a gente não descobrisse seu canto e desconfiasse que ele fosse um passarinho.

Fabiana Simone Torres Tardochi disse...

Oi Ilaine!
EU tinha esse mesmo tipo de cumplicidade com meu avô paterno. Que falta ele me faz...
Lindo texto como sempre:)
Um beijo

Dilberto L. Rosa disse...

E como são belas estas tuas crônicas-poemas, caríssima Ilaine: também tenho doces e belas recordações saudosas de meu belo avô... Como o tempo é duro para aqueles que amam, não é mesmo...? Emocionaste-me...

Adorei a passagem sobre tua vizinha Primeira-Ministra: que curioso, não?! Adorável mesmo este "teu" país (porque o TEU mesmo é este de cá, rs): gostaria muito de conhecê-lo!

Um grande abraço, minha amiga de terras distantes! E tem poesia nos Morcegos!

Claudia Caprecci disse...

Lindo demais minha amiga!
Infelizmente não tive a sorte de conviver com meus avós,um deles também alemão.
Mas me lembro bem de meu pai,nesse mesmo silêncio de que fala só observando meus filhos,em um encantamento muito lindo de se ver.
São essas coisas que tornam a vida mais bonita!
Estou amando o seu cantinho,fico feliz de vê-la realizando aquilo que ama,porque da forma como escreve tenho certeza de que você ama isso que faz!
Sucesso sempre Ila,que Deus a abençoe e proteja sempre!
Beijo e linda noite.

Michele Andrade disse...

Texto muito lindo e imagem encantadora!
Parabéns.
Bjs e bom fds.

www.atelierartedecor.blogspot.com

Eva disse...

Ila emocionante o texto, impossivel não se identificar, os avós são comuns na segurança e doçura que presenteiam as crianças, bjinho, minha amiga, um lindo final de semana cheinho de coisaas boas pra vc.

Anônimo disse...

Olá, Ilaine! É muito bom tê-la como seguidora do meu blog e melhor ainda ter a oportunidade de conhecer o teu... Estou te seguindo, com prazer! Obrigada! Bjs, Kakau

Rafael Castellar das Neves disse...

Muito gostoso!!! Me fez lembrar muito o meu!

[]s

eder ribeiro disse...

Oi Ila, vc acertou no seu comentário. Os meus textos, qdo os crio é para reflexão, muitos dizem que são tristes, os qualificos como realista. Penso que a violência não nasce no seu pior ato, um assasinato, mas o seu nascedouro está na falta de gentileza ao outro. O mesmo texto foi inspirado na violência que abalou o rio e teve como ápice a que do helicóptero da polícia abatido por traficantes com arma de guerra. Obg. pela leitura e pelo comentário. Bjos.

eder ribeiro disse...

Ila, o conto intercala presente e passado. Bjos

myra disse...

lembrançasa maravilhosas descritas de maneira emocionante, beijos

Claudia Liechavicius disse...

Texto com gostinho de infância. Que delícia. Essas recordações são mágicas. Belo texto - como sempre.
Beijo
Claudia

Patricia Merella disse...

Ila
hoje eu pensavas o que escrever amanhã para meu Pedro...Amanhã faz 5 anos.João Pedro em homenagem ao meu avô e avô do marido.
Me deparo com este texto lindo que reportou-me a minha doce infância!
O amor...como é lindo e importante esta referencia dos avós, laços eternos,lindo texto!
Obrigada pelo carinho,eu gosto muito desta casa, vivo apenas a 4 meses nela,tenho muito o que fazer e decorar,montar sala nova,quarto de visita...mas sou paciente.
Fizemos contracto de 10 anos na intenção de comprar,mas o dono está ainda a pensar,vamos ver o que vai dar,bjkas

Magna Santos disse...

Meu Deus, Ilaine, como não isto antes?! Lindo demais! Em pleno trabalho, é mesmo bom que não me demore comentando, sob pena de lembrar de outro Pedro(meu pai), de sua cabeça que não vi branquear, mas que tanto amor me deu(dá). Não há também como esquecer, agora sim, outra cabeça branca com dois faróis azuis a servir-lhe de olhos...meu avô querido que minha mão pequenina brincava de catar-lhe piolhos.
Eita, Ilaine...falei demais!
Que Deus te abençoe!
Beijos.
Magna