O vazio me povoa. Tento escrever – digito e apago. Procuro encontrar a palavra certa e não a encontro. Exercito segurar alguma, mas todas estão tão lisas e escorregam de mim, feito peixinhos. E os temas? Nem estes me agradam e, assim, o texto não nasce. Estendo os braços e retiro o livro de Clarice da estante. Leio algumas passagens e ela me fala com sua autenticidade pura. Conta-me as coisas como se por um acaso a tivesse encontrado ao dobrar a esquina de minha rua. Para não esquecer enche meus olhos de admiração. Lembro-me então, de meu desespero e tenho vontade de me esconder atrás de mim mesma, como muita vezes faço. A minha escrita não acontece e eu procuro engravidar-me de palavras. Mas a concepção só é possível em dias férteis. Decididamente, estou num período desapropriado. Ou sempre estou... Mas, que meus textos nasçam de forma natural, sem grandes esperas e sem preparações precoces. E que eles sejam o espelho de loucas paixões... Estendo os braços e tiro da estante Perto do Coração Selvagem e leio: Grito-me. São raros os instantes.
Imagem: Ilaine
8 comentários:
Infertilidade? Mesmo nesses dias, vc pari´texto belos. Interessante, qdo tou assim leio um livro atrás de outro e de repente surge um "insight" através de uma frase e qdo percebo nasceu um conto. Acabo de escrever um conto longo, deu um dezesseis capítulos, agora tou lendo, em duas semanas já li 3, e assim vou. Bjos, querida Amiga.
Que belo texto minha querida, se assemelha com a vida de todos nós. Uns dias são tão férteis. Outros, nem tanto!
Ainda assim...parimos e somos paridas.
Bkinhas muito doce.
Ila querida, criar é conflitante, mas tudo nos move e o resultado é suado, vivido e lindo, inspiração é pura expiração, mas acredito que quanto maior o vazio de controle do processo, a poesia surpreende e nos modifica, dando a sua nota e o tom foi absorvido por você e o texto está belissimo na maior inspiração.Parabéns! bjinhos.
Pois a sua transpiração deixou-nos um texto tão belo, tão palpável, é como se fosses nossa porta-voz para os dias em que a vontade - não consideraria dias sem criatividade -, insiste em nos abandonar e nos deixar à míngua, a mercê de um fato ou de um clarão de luz nas trevas da razão. E ainda por cima, fazes referência à Clarice, a minha preferida dentre todas as preferias, e ao meu livro de todos os seus livros. Que posso querer mais?
Deixo beijos, e um pedido de desculpas, ando em falta com meus blogues queridos, o tempo anda tão exíguo, Ila...
Depois de 'Palavras acordadas', tu vens com Infertilidade. Acaso não notastes que era apenas um deslizar das palavras? Um deslizar daqueles como a espichar-se na cama, antes de se levantar. Um espreguiçar. E tu fostes, com maestria, as acordando brandamente, como um amante a dar beijinhos, a falar baixinho para não desagradar o grande amor.
Sim, Ila, foi isto que fizeste. Senão, não teríamos este texto suave, sincero e terno como resultado final.
Beijão!
Magna
Obs.:já soubeste que mudei de endereço?
Passei pra te deixar um beijo cheio de carinho...e saudade.
Eu queria tanto ser infértil assim para escrever. Com as palavras gravidas de sentimentos, gritando o grito de parir emoções. Nasce sempre das suas palavras belíssimos textos.
E gosto de sentir cada frase me engravidando de belezas.
beijo
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