domingo, 6 de novembro de 2011

Infertilidade


O vazio me povoa. Tento escrever – digito e apago. Procuro encontrar a palavra certa e não a encontro. Exercito segurar alguma, mas todas estão tão lisas e escorregam de mim, feito peixinhos. E os temas? Nem estes me agradam e, assim, o texto não nasce. Estendo os braços e retiro o livro de Clarice da estante. Leio algumas passagens e ela me fala com sua autenticidade pura. Conta-me as coisas como se por um acaso a tivesse encontrado ao dobrar a esquina de minha rua. Para não esquecer enche meus olhos de admiração. Lembro-me então, de meu desespero e tenho vontade de me esconder atrás de mim mesma, como muita vezes faço. A minha escrita não acontece e eu procuro engravidar-me de palavras. Mas a concepção só é possível em dias férteis. Decididamente, estou num período desapropriado. Ou sempre estou... Mas, que meus textos nasçam de forma natural, sem grandes esperas e sem preparações precoces. E que eles sejam o espelho de loucas paixões... Estendo os braços e tiro da estante Perto do Coração Selvagem e leio: Grito-me. São raros os instantes.

Imagem: Ilaine

8 comentários:

eder ribeiro disse...

Infertilidade? Mesmo nesses dias, vc pari´texto belos. Interessante, qdo tou assim leio um livro atrás de outro e de repente surge um "insight" através de uma frase e qdo percebo nasceu um conto. Acabo de escrever um conto longo, deu um dezesseis capítulos, agora tou lendo, em duas semanas já li 3, e assim vou. Bjos, querida Amiga.

Sabor em Si disse...

Que belo texto minha querida, se assemelha com a vida de todos nós. Uns dias são tão férteis. Outros, nem tanto!
Ainda assim...parimos e somos paridas.
Bkinhas muito doce.

Eva disse...

Ila querida, criar é conflitante, mas tudo nos move e o resultado é suado, vivido e lindo, inspiração é pura expiração, mas acredito que quanto maior o vazio de controle do processo, a poesia surpreende e nos modifica, dando a sua nota e o tom foi absorvido por você e o texto está belissimo na maior inspiração.Parabéns! bjinhos.

Canto da Boca disse...

Pois a sua transpiração deixou-nos um texto tão belo, tão palpável, é como se fosses nossa porta-voz para os dias em que a vontade - não consideraria dias sem criatividade -, insiste em nos abandonar e nos deixar à míngua, a mercê de um fato ou de um clarão de luz nas trevas da razão. E ainda por cima, fazes referência à Clarice, a minha preferida dentre todas as preferias, e ao meu livro de todos os seus livros. Que posso querer mais?
Deixo beijos, e um pedido de desculpas, ando em falta com meus blogues queridos, o tempo anda tão exíguo, Ila...

Magna Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Magna Santos disse...

Depois de 'Palavras acordadas', tu vens com Infertilidade. Acaso não notastes que era apenas um deslizar das palavras? Um deslizar daqueles como a espichar-se na cama, antes de se levantar. Um espreguiçar. E tu fostes, com maestria, as acordando brandamente, como um amante a dar beijinhos, a falar baixinho para não desagradar o grande amor.
Sim, Ila, foi isto que fizeste. Senão, não teríamos este texto suave, sincero e terno como resultado final.
Beijão!
Magna
Obs.:já soubeste que mudei de endereço?

jeito simples disse...

Passei pra te deixar um beijo cheio de carinho...e saudade.

Paula Barros disse...

Eu queria tanto ser infértil assim para escrever. Com as palavras gravidas de sentimentos, gritando o grito de parir emoções. Nasce sempre das suas palavras belíssimos textos.

E gosto de sentir cada frase me engravidando de belezas.

beijo