segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Xilogravuras

Casas de alvenaria e de madeira pontilham a estrada principal. Estão embrulhadas em arbustos, em flores e em arvoredos, protegidas do sol e dos fortes ventos. Videiras e madressilvas invadem as cercas e muros em apegos quase selvagens, em envolvimentos quase afetivos. Laços e nós, a densa folhagem das plantas trepadeiras agasalham caramanchões e paredes. E, nos telhados, as chaminés de zinco se erguem, se esticam, expelindo a fumaça dos fogões a lenha. São valentes soldados que espiam por sobre as telhas de barro, observam, documentam e testemunham os acontecimentos da aldeia. Eles cuidam das propriedades como se fossem vigias, como se fossem fiéis sentinelas. Pelas venezianas abertas, o cheiro agreste da terra lavrada invade os aposentos, onde vidas são geradas. Em fábulas cotidianas, personagens procuram por sonhos e por amor. Ora suas vidas são beijadas pela felicidade, ora flageladas por dolorosas decepções. Por vezes, a existência é marcada em compassos fortíssimos, outras vezes em movimentos piano, como numa sinfonia. Há que ser flexível para se moldar. As casas do Morro são xilogravuras carimbadas em minhas lembranças, talha por talha. Xilogravuras gravadas em minha memória.


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