Queria ter escrito para você. Ambicionei desembrulhar as palavras e deixá-las voar por esta imensidão azul é que nos separa. Queria ter expressado palavras viçosas que desembocassem em tertúlias alegres e prolíferas. Poderia ter deixado um carinho, pelo menos uma centelha de carinho, um regalo ou um abraço. Mas calei-me.
Escrevo agora para falar dessa tristeza dentro de mim. Falo para sair desse silêncio que tem me deixado atordoada. Queria ter escrito, mas não consegui. Em minha cabeça havia apenas um cansaço muito grande que se derramava por toda a tela do meu computador. Havia esta estafa, esta falta de criatividade, esta moleza. Então, penso que é importante dizer para mim mesma que a tristeza é normal. E se não conhecesse este sentimento? A tristeza nos torna mais humanos, mais suaves. A alegria é instantanea e borda loucuras em minha vida. Ela é veloz e livre, traz em sua essência um manjar delicioso de satisfação, um cálice de vida e aventura. Em contrapartida, a tristeza me aprisiona e me imobiliza. Ela é uma presença sem delírios e sem celebrações. A tristeza rouba meus sonhos. No entanto, para viver intensamente deve-se estar triste algumas vezes. É... eu penso assim. Quando estou triste, uma parte de mim é outra.
Queria ter criado palavras para você... poderia fazê-las nascer. Mas não as encontrei. Estão guardadas em algum lugar dentro de meu eu vazio. Para ser poeta é preciso fecundar a escrita. É necessário carregá-la como um fruto maduro no seio morno da gestação.