sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Favelas




Rio de Janeiro... Não há na face da Terra cidade mais encantadora.
Stefan Zweig

A revista alemã Stern, em edição dessa semana, publicou uma reportagem sobre as favelas do Rio de Janeiro, com o título: Der endlose Krieg - A guerra sem fim. Na reportagem é descrita uma ação da polícia no confisco de armas e na captura de comerciantes de drogas. Pois, a quinhentos metros do estádio do Maracanã, onde em 2014 será realizado o jogo final da Copa do Mundo, os policiais encontram seu campo de batalha – a favela da Mangueira. Na entrada da favela encontra-se um cartaz com as letras chamativas: CV - Comando Vermelho. Segundo os repórteres, meninos de 15 anos, muitas vezes, são personagens da guerra, quando carregam em suas mãos uma arma de fogo e se colocam à inteira disposição dos narcos. A Mangueira é apenas uma de muitas favelas que são regidas sob o poder do Comando Vermelho e dos Milícias - os donos, os chefes - que ditam as leis, como o pacto do silêncio, por exemplo. Segundo o IBGE, morrem no Rio de Janeiro 68 pessoas diariamente. No entanto, ninguém sabe a quantidade exata de homicídios e a estimativa é que o número seja muito maior. Stern evidencia, ainda, o fato de que que 80% dos policiais são corruptos e que para eles, todos os moradores das favelas são criminosos. Em 2008 foram executadas mais de 1100 pessoas pela polícia . Este cenário de guerra, entre policiais e narcos, concede ao Rio de Janeiro o título de uma das capitais mundias do crime. Ah, meu Deus! Nossa cidade olímpica!

Sei que os fatos que foram abordados acima não são novidades para ninguém. Também não para alguém que vive fora de seu país. Mas, ao ler o artigo, fui inserida num mundo tão cruel e violento que foi impossível não falar sobre o assunto. A tristeza toma conta do coração.

Imagem,aqui!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


Um poeminha para todos que gostam de se sentir menino outra vez... Beijo.

O mundo das palavras é um mágico planeta,
lá moram as letrinhas do nosso alfabeto.

São 26 letras - consoantes e vogais.
Todas elas são importantes e muito especiais.

Cada letra tem uma forma, uma linda silhueta.
Se eu sigo suas linhas, traço uma borboleta.

Uma delas é redonda, olhe! A outra é curvada.
Algumas são retinhas e outras onduladas.

As letras são cheirosas e muito coloridas.
Umas são dengosas, mas também muito sabidas.
Ah, como são famosas e... um tantinho enxeridas.

Elas lembram serpentina, ancinho e telhado.
Pense em princesa e imagine um espantalho.

Encontre nesse batalhão, uma letra furacão.
Encontre serpentina, nas mãos de uma menina.

Tem letrinha acinturada - oh!- e a outra com barriguinha.
Se você olhar direito, uma delas é formiguinha.

As letras do alfabeto são nossas e são suas.
Estão sempre por perto, aqui ou então na rua.
Escolha uma delas: aumente sua forma,
ou então diminua... Veja como é fácil,
fazer uma meia-lua.


Imagem google

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

... ao adjetivar


A experiência de viver em outro país, mesmo que esse seja o de nossos antepassados - como a Alemanha, em meu caso - , assemelha-se a uma graduação. Quanto mais viajamos, quanto mais cidades e países conhecemos, tanto mais ampla é a capacidade de compreensão. Assim, as comparações que fazemos permanecem no nível da simples diferenciação que, de forma sensível, identificamos. Então contemplamos o que é belo. O preconceito é bem mais amplo e muitas vezes é o espelho de nossa incapacidade de viver e de conviver com o que não nos é familiar, levando-nos a acreditar que somos melhores por isto ou por aquilo. Caracterizar povos e culturas, atribuindo-lhes qualidades precisas e concretas, isto não me cabe. Ao adjetivar, corro o risco de estabelecer preconceitos e de generalizar. Penso que as impressões diferem de pessoa para pessoa e não há, neste sentido, verdades universais. Viver no estrangeiro requer muito desvelo. Sinto que há em mim uma vigilância positiva, sem medo, que me acompanha constantemente, visto que, estou sempre a me justapor, identificando usos e costumes num país onde não nasci. Viver num outro país é uma experiência muito inebriante, é verdade, mas requer também, muitas vezes, tolerância e ginga na adaptação. Neste contexto, porém, é importante dizer que gosto muito da cidade em que vivo. Caso contrário, seria muito infeliz.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O escritor



Li o romance Smilla e o mistério na neve do dinamarquês Peter Høeg. Fiquei deslumbrada com seu talento narrativo. É épico, com muitos elementos filosóficos. Smilla Jespersen, a personagem principal, conta a sua história e envolve o leitor de forma muito intensa, como se nos narrasse os fatos pessoalmente, sentada ao nosso lado na mesa de jantar. É impossível largar o livro. Frøken Smillas fornemmelse for sne, título original, é um dos grandes best sellers dos anos 90 e foi traduzido em vários idiomas. O romance de Høeg foi filmado pelo cineasta dinamarquês Bille August.

Na contracapa do livro li que Peter Høeg mora no residencial Brumleby, no bairro de Østerbro. Ao saber disto, passei a frequentar os jardins de Brumleby mais seguidamente, para ver se não cruzava (assim por acaso!) com o escritor. Andei por diversas ruazinhas e aproveitava sempre o mesmo caminho quando ia ao correio. Espiei muitas janelas e observava as pessoas, na esperança de encontrar Høeg. Eu já estava parecendo a Smilla, perambulando por um lugar suspeito, a fim de descobrir algo valioso. Em que casa será que mora? Qual seria a sua janela? Estará trabalhando em algum novo romance? Brumleby passou a ser para mim uma Groelândia cobiçada. Hoje sei que foi em vão procurá-lo nas ruas de Østerbro, pois já não mora mais na capital.

Peter Høeg, antes de ser escritor, foi marinheiro e bailarino. Escreveu vários livros memoráveis. Seu último romance chama-se Den stille pige – A menina silenciosa.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

...ao te ler

Imagem,via

Enquanto no hemisfério norte ainda reina o inverno, vou escrevendo sobre tantas coisas. Tu sabes, Mari, quando se está longe, longe assim, os sentimentos e as emoções parecem se duplicar, tornando-nos mais sensíveis e vigilantes com o que acontece ao nosso redor. Ontem me escreveste, falando de tuas férias em Salvador. Disseste que foram excelentes e que tu e o João haviam adorado a Bahia. Falaste também que o povo é charmoso (95% da população é negra) e que a geografia é surpreendente. Descreveste o aspecto histórico marcante da antiga Salvador - as casas pequenas - de cores pastéis - espalhadas pelas ruas estreitas da cidade alta. Ao te ler, deu-me saudades do Pelourinho, que lembra Lisboa em seu estilo barroco português. Com seus 70 museus é realmente uma cidade fascinante - a Bahia de todos os santos e a de Jorge Amado, que soube ilustrá-la com os capitães da areia, crianças de rua que viviam sob a lua, num velho trapiche abandonado; com a sensualidade de Gabriela, com os amores dos marinheiros e com Tereza, cansada de guerra... Fiquei emocionada quando falaste que os meninos precisam viajar para a Bahia, para terem conhecido seu país verdadeiramente. Sim, irão conhecê-la e haverão de se impressionar.

Mari, vou agora fazer compras pelas ruas de Copenhague. Comprarei um buquê de tulipas para enfeitar minha casa. Tu sabes, eu adoro tulipas.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Neve. Noiva. Nívea.


Imagem, aqui

Escrevo este post e da janela de meu quarto vejo os telhados dessa cidade medieval: estão cobertos de neve. Parece que o mundo está enfeitado com açúcar confeiteiro, feito um bolo de noiva. É uma beleza alba e cristalina. Há um brilho alvejado em toda parte e o ar desfralda-se em azul. A neve está em todo lugar: em cada haste, em cada pedra e em cada ramo. Deitou-se em cima dos telhados, encobriu as alamedas e adorna as avenidas com seu claro lençol. Olho para fora e não posso deixar de admirar a paisagem branca. Mas, confesso: dela estou cansada. Nunca antes nevou tanto assim. Este é o inverno mais rigoroso que aqui vivenciei. Aos poucos a beleza de cristais está se tornando um fardo. Hoje saí com minha bicicleta para ir ao supermercado. Na volta, precisei empurrá-la, pois algumas ruas aqui perto de minha casa não foram limpas, ou seja, a neve não foi removida. Pegadas brancas.