Palavra que canto, que busco, que falo. Com voz de sussurro, ela desfolha minha fadigada melancolia. Saracoteia monossilábica ao meu redor, deixando-me tonta na expressão de minha ânsia. Então, eu a busquei e deixei que deslizasse substantiva por sobre essa alba página. Agora, ela desenha letras, feito flor semeada por entre as linhas. Nem eu, nem ela sabemos se há sentido no vórtice desta aflição. Todavia, somos uma unidade e estamos ligadas por um fio, como as pérolas que compõem um colar. O texto que juntas formamos é como uma tela - um quadro de cor púrpura. Eu, o pintor; a palavra, a tinta.
Tenho-lhe um amor imensurável. A palavra permite a magia de expor, em forma figurada, a dor que o poeta sente. Ela é o molde de meus momentos e o timbre de meus sonhos. Palavra que soa, que rima, que voa, e que navega comigo nesta canoa. Palavra que cabe, que molda, que reveste e que descobre. Ela esculpe a minha vida com cores e com aromas. Neste momento está calada e me olha, afeiçoando-se. Despojada de qualquer lamento, desfila em letras com brilho escarlate. Queria era uma grafia, uma adjetivada forma na frase de um destino, conjugada e escrita. Palavra - nascida do parto normal de minha embriaguez.
Obrigada, Graça, por me conceder esta oportunidade!
Imagem: Ila